Definição
Nacional-cançonetismo é uma expressão utilizada para definir um certo tipo de música portuguesa ligeira aceite e promovida pelo Estado Novo através da rádio e da televisão, especialmente na década de 1960. É um trocadilho com a designação nacional-socialismo, comportando, por isso, uma forte carga pejorativa.
Não obstante, foi um estilo bastante popular na sociedade portuguesa, especialmente entre as camadas mais desfavorecidas, celebrizando nomes como Simone de Oliveira, Tony de Matos, Artur Garcia, António Calvário, Madalena Iglésias, Maria de Lourdes Resende ou Maria Clara, ídolos da juventude portuguesa de então. Delineou, ainda, a dicotomia que começava a surgir no panorama musical português, “entre os que apenas cantavam “o amor, o coração, a paixão” e os que se interessavam pela vertente social da “realidade do quotidiano” (Sousa, 2016, p.44)
Como contraponto ao nacional-cançonetismo surgiu a música de intervenção, protagonizada por artistas como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.
Origem da expressão
A expressão foi cunhada pelo jornalista João Paulo Guerra na rubrica “POPPularucho” no suplemento “A Mosca” da edição de 4 de Outubro de 1969. Meses antes, num artigo de 9 de Agosto, o jornalista tinha-se referido a esta música, em estilo irónico, nos seguintes termos: “música popular portuguesa, música ligeira portuguesa, música ligeiríssima portuguesa, canção popular portuguesa, canção de namoro, canção clubista, cantores da vida e movimento da continuidade” (Santos, 2012).
Temáticas do Nacional-Cançonetismo
A maioria das canções interpretadas dentro deste tipo de música procurava iludir com banalidades a verdadeira situação do país – censura, repressão, guerra colonial – e actuava como um instrumento de propaganda do próprio Estado Novo. Os temas eram, normalmente, a pátria, o nacionalismo, a família, o elogio à pobreza, a devoção religiosa, os amores perdidos etc.
“Dois exemplos emblemáticos são Ele e Ela, de Madalena Iglésias, música vencedora do Festival da Canção de 1966 – pela abordagem simplista e infantilizada de um namoro, retratando a constituição de família como “o maior bem” da vida – e Oração, de António Calvário, que conquistara o primeiro prémio do mesmo festival dois anos antes – em cujos versos um desgosto amoroso origina uma prece: “Senhor, a teus pés eu confesso / Senhor, meu amor maltratei / (…) / No entanto eu te imploro, Senhor / Tu que és a redenção” (Sousa, 2016, p. 18)
References:
Santos, R. (2012). Nacional-Cançonetismo. Em https://industrias-culturais.hypotheses.org/20383
Sousa, J.F.V. (2016). O Mundo da Canção: percursos da primeira publicação portuguesa sobre a música popular entre o Estado Novo e a Revolução (1969-1976). Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Comunicação Social, Instituto Politécnico de Lisboa.