Realismo Crítico
Introdução
A escola conhecida como realismo crítico, na acepção contemporânea do termo, emergiu dos debates ocorridos na década de 70 no campo da filosofia da ciência. O busílis da argumentação prendia-se com o sucesso relativo das experiências laboratoriais na criação de sistemas artificiais fechados, que passavam pelo isolamento e exploração das relações causais. Argumentou-se que esses sistemas fechados eram de rara existência fora do âmbito dos laboratórios, e que a realidade não-social consistia em estruturas complexas e estratificadas abertas ou variáveis, e em sistemas sujeitos a transformações.
O propósito do método das ciências naturais era explicar o poder destas estruturas, isto é, a tendência dessas estruturas assumirem formas particulares. Uma vez que no curso ordinário das coisas, os desfechos regulares eram raros nos domínios exteriores ao laboratório, inferiu-se que a realidade poderia ser analiticamente distinguida em estruturas, no resultado nas intersecções complexas entre as várias estruturas, na experiência, percepção, e interpretação humana dessas mesmíssimas consequências.
Posteriormente argumentou-se que esta distinção poderia fazer sentido da diferença entre a teoria e a realidade remanescente, de um modo não explorado pela filosofia idealista ou o empirismo materialista: se por um lado o idealismo argumenta que a realidade depende da mente, e o materialismo defende a realidade como consistindo numa série de objectos externos percepcionados pelos sentidos, que são as bases das leis causais observadas no campo da natureza, por seu turno, o realismo crítico postulou que nenhum dos pontos de partida prévios justifica o método das ciências naturais. Por exemplo, o idealismo revelou-se incapaz de fornecer um relato adequado ao sucesso e insucesso das experiências laboratoriais, ao passo que o empirismo não conseguiu justificar a necessidade de experiências laboratoriais, crendo que a realidade é dada aos sentidos em termos de relações causais.
Em conformidade, defendeu-se que a realidade era afectada pela mente numa interacção contínua de programas teóricos investigando a realidade profunda. Esta abordagem, influenciada pelo programa epistemológico de Kuhn e Lakatos, e parte de um movimento mais amplo denominado naturalismo científico, teve consequências tremendas na filosofia da ciência em termos da mediação dos pontos de vista fornecidos pelas diferentes respostas à incapacidade explanadora inerente ao empirismo lógico e ao positivismo.
Num primeiro olhar, o realismo crítico pode parecer irrelevante para as ciências sociais, mas contrariamente a esta asserção precoce, este programa tem revelado ser uma enorme influência para a teoria social e para a sociologia, especialmente no Reino Unido e na Escandinávia, e também nos Estados Unidos da América, via o Journal for the Theory of Social Behavior. E isto por duas razões: em primeiro lugar, porque assegura um argumento filosófico quanto à incapacidade do positivismo ser um método sustentável nas ciências naturais, destronando assim o projecto de uma ciência universal fortemente baseada nos contornos matemáticos da economia e sociologia behaviourista; em segundo lugar, fornece uma alternativa às formas de relativismo extremo que caracterizam o construtivismo social e a teoria social pós-modernista.
A base desta alternativa passa por adaptar os argumentos das ciências sociais às sociedades. Todavia, surgiu um problema conceptual: ao contrário dos electrões, os humanos pensam. Assim, a complexidade e a variabilidade da sociedade é incomparável à realidade restante, tendo em atenção que uma linguagem crítica referindo entidades diferirá substancialmente se esse mesmo instrumento for aplicado a, por exemplo, condições meteorológicas.
References:
Archer, M. (2000) Being Human: The Problem of Agency. Cambridge University Press, Cambridge.
Archer, M. (2003) Structure, Agency and the Internal Conversation. Cambridge University Press, Cambridge.