Os estudos de cognição social pretendem explicar o modo como o pensamento ou a resolução de problemas cognitivos assume o seu lugar no seio dos grupos sociais. Ao passo que os académicos concordam geralmente que a aprendizagem pode ser uma atividade colectiva, por outro lado, inúmeros investigadores confessam uma grande relutância em admitir que o pensamento em si é composto por uma dimensão social.
Os psicólogos e os cientistas cognitivos tendem a considerar o pensamento como uma atividade cerebral interna, sendo que os sociólogos evitam este problema ao concentrarem-se no comportamento social. Quando os sociólogos “observam” a consciência, geralmente estudam a forma como os processos psicológicos internos foram moldados pelas exigências sociais externas. Especialistas em estudos dos media examinam os padrões de persuasão, e os sociólogos políticos avaliam as práticas ideológicas e hegemónicas. Todos concordam que a vida colectiva procede tanto na mente como no corpo, mas poucos consideram o papel da interacção na delimitação da cognição social e do pensamento.
A noção de ferramentas cognitivas tem provado ser particularmente eficaz na interpretação dos padrões colectivos da cognição na ciência. Os instrumentos científicos constituem outro tipo de ferramenta cognitiva que não só permite aos indivíduos pensarem além de antigas fronteiras, mas também abordarem os problemas com os mesmos recursos. Ao serem aplicados em múltiplos campos de estudo, os instrumentos auxiliam num modo comum de trabalho e pensamento. No entanto, a pesquisa demasiadamente especializada pode contribuir para viragens colectivas do conhecimento, uma vez que os cientistas partilham essas ferramentas cognitivas: não só as mesmas medidas, mas também os modelos matemáticos, ou a lógica da pesquisa.
Como excepção a esta regra, temos os académicos que desenvolvem trabalho na sociologia do conhecimento científico, pois conduzem o trabalho de campo nos laboratórios, o que tem contribuído para assinalarem que as ideias emergem à luz da interação, isto é, que o pensamento tem lugar na conversação.
Em termos gerais, o grande problema para os interessados na cognição social é a definição de condições mais gerais sob as quais tal actividade tem lugar. Ed Hutchins, um antropólogo especializado em ciência cognitiva, tem sido um líder nesta esfera do saber, uma vez que nos explica que a cognição social acontece mesmo quando os indivíduos se encontram a sós.
Por exemplo, Hutchins interpela-nos com o estudante que tenta resolver um problema de matemática enquanto está sentado na secretária. Na secretária há papel, e o estudante tem um lápis na mão. Hutchins pergunta como se desenrola este pensar, sendo que a resposta simples reside no cérebro, uma vez que o estudante absorve o problema, resolve-o internamente, e coloca o resultado no papel. Todavia, Hutchins argumenta que os cálculos têm lugar tanto no papel como no cérebro, pois o estudante usa símbolos culturais para resolver o problema, e manipula-os em formas culturalmente prescritas, usando para isso técnicas concebidas para o lápis e o papel.
Assim, o pensamento incorre tanto no cérebro como no mundo material, pois o cérebro aprende a aplicar aquilo que é culturalmente possível. Em suma, o cérebro não é uma fonte autónoma de ideias, mas antes uma das várias partes da anatomia humana, treinado para incorporar dados culturais. Assim como algumas pessoas aprendem modos de andar, formas de sexualidade, estados emotivos, linguagens, e aptidões, também do mesmo modo aprendem a pensar. E exercitam este pensamento ao pensarem com outros. O próprio cérebro é treinado na fase de transição entre a infância e a adolescência, pelo ambiente físico e cultural.
References:
Longino, H. (1990) Science as Social Knowledge. Princeton University Press, Princeton.