Dependência afetiva
A dependência afetiva diz respeito à necessidade constante de apoio e proteção por parte de outrem, principalmente emocional. Estes indivíduos não assumem o controlo das suas próprias vidas porque não se sentem capazes de o fazer.
De acordo com a revisão bibliográfica de Dias e Souza (2008) quando falamos de dependência afetiva não podemos deixar de observar a forma como a mesma mudou ao longo da história, uma vez que, em tempos remotos, a dependência da mulher em relação ao homem era notória em todos os sentidos.
Nos dias de hoje, notamos ainda a tendência para alguma dependência afetiva, durante a fase da adolescência, por parte das raparigas em relação aos rapazes, no que concerne aos relacionamentos amorosos (Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias, & Coelho, 2010).
Já no caso dos rapazes, os relacionamentos amorosos nesta fase, são pautados, principalmente, pelo desprendimento, na maioria dos casos (Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias, & Coelho, 2010).
Estas circunstâncias fazem com que a adolescência seja, tendencialmente, vivida como uma fase de construção da identidade do indivíduo, no que diz respeito ao merecimento de afeto e de atenção bem como à sua capacidade para dar de si mesmos de forma a satisfazer as suas necessidades afetivas de forma mútua (Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias, & Coelho, 2010).
Habitualmente, o namoro, nesta fase, é visto como fonte de segurança e de vinculação, pelo que encontramos neste tipo de relação uma certa dependência associada à necessidade de estabelecer ligações emocionais e físicas, ao mesmo tempo que aparece o medo de perder o/a parceiro/a (Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias, & Coelho, 2010).
Zanin e Valerio (2004) falam da personalidade dependente que apresenta este tipo de características e que, quando o indivíduo se depara com a perda de um relacionamento, imediatamente assume a posição do fracasso e é assombrado por pensamentos negativos exagerados.
Verifica-se ainda, segundo Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias e Coelho (2010) que no tipo de relação em que há vida sexual entre os adolescentes, há também maior tendência para a confiança e a dependência mútua, associadas ao vínculo emocional e físico inerente, e ao medo da separação (Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias, & Coelho, 2010).
Outros estudos no âmbito das relações ressalvam ainda que a dependência afetiva provém de questões relacionadas com ciúmes e com dependência emocional ou então de questões sociais, económicas ou outro género de razões (Nascimento, & Cordeiro, 2011).
A dependência afetiva nesta fase provem muito do autoconceito e da autoestima dos adolescentes que vão ser traduzidos no tipo de vinculação que o casal tem (Custódio, Domingues, Vicente, Silva, Dias, & Coelho, 2010).
Dependência afetiva em personalidades dependentes
Estudos realizados no âmbito da personalidade dependente patológica indicam ainda que, quando estamos perante um indivíduo que apresenta esta estrutura de personalidade, a mesma manifesta-se com atitudes e comportamentos submissos por parte do indivíduo dependente, como por exemplo, incapacidade para estarem sozinhos, ou seja, quando terminam um relacionamento, procuram imediatamente assumir outro na busca de apoio e proteção (Zanin, & Valerio, 2004).
Estes indivíduos são extremamente humildes e procuram, nos seus relacionamentos, o conforto e a aprovação contínuos, que se expressam pela exigência de atenção constante ao mesmo tempo que se auto-anulam sistematicamente (Zanin, & Valerio, 2004).
Verifica-se ainda que a dependência afetiva nestes casos leva os indivíduos a serem hipersensíveis, a sentirem-se constantemente inadequados e a procurar um porto seguro pela busca de outras pessoas que consideram importantes para os seus relacionamentos dependentes (Zanin, & Valerio, 2004).
“…Eu não consigo sobreviver sem alguém que tome conta de mim, Eu sou inadequado demais para enfrentar a vida sozinho, Se eu fosse mais independente, ficaria isolada e só e Independência significa estar completamente só.” É o tipo de pensamento mais comum quando se trata da dependência afetiva numa pessoa que padece de personalidade dependente (Zanin, & Valerio, 2004).
Associadas a estes sintomas aparecem traços depressivos, doenças orgânicas e hipocondria, queixas somáticas e até consumo de substancias psicoativas ou álcool (Zanin, & Valerio, 2004).
Conclusão
A dependência afetiva, frequentemente associada a estruturas de personalidade dependente, leva o indivíduo a ter atitudes de insegurança, ânsia de separação e necessidade de controlo e de atenção constante. Esta pessoa não se sente segura para enfrentar a sua vida de forma independente porque não se acha capaz de assumir as suas próprias responsabilidades pelo que a intervenção psicoterapêutica parece ser fundamental.
References:
- Custódio, S., Domingues, C., Vicente, L., Silva, M., Dias, M., & Coelho, S. (2010). Auto-conceito/auto-estima e vinculação nas relações de namoro em estudantes do ensino secundário. Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia. Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de fevereiro de 2010;
- Dias, Maria Berenice. Souza, Ivone M.C.Coelho de. Famílias Modernas: (inter)secções do afeto e da lei. Disponível em http://www.iuspedia.com.br. 18 d jan. 2008;
- Nascimento, F.S. & Cordeiro, R.L.M. Violência no namoro para jovens moradores de Recife. Psicologia & Sociedade; 23(3): 516-525, 2011;
- Zanin, Carla Rodrigues e Valerio, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso. Rev bras ter. comport. Cogn. [online]. 2004, vol.6, n.1 [citado 2016-08-07]. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452004000100009.