Hiper-Realismo, designa uma tendência artística que tem lugar no final da década de 1960, sobretudo em Nova Iorque e em Califórnia, Estados Unidos. A exposição 22 Realistas, no Whitney Museum de Nova Iorque em 1970, marca a divulgação e o ponto de partida desta tendência ao público. O Hiper-realismo consiste na volta do realismo na arte contemporânea, contrariando as direcções abertas pelo minimalismo e pelas pesquisas formais da arte abstracta.
O hiper-realismo, também conhecido como realismo fotográfico ou foto-realismo é um estilo de desenho, pintura e escultura, que busca mostrar uma abrangência muito grande de detalhes, tornando a obra quase idêntica a uma fotografia ou a uma cena da realidade. As obras hiper-reais, por apresentarem uma exactidão de detalhes bastante minuciosa e impessoal, geram um efeito de irrealidade, formando o paradoxo: “É tão perfeito que não pode ser real”.
Como o próprio nome indica, o realismo é levado ao extremo, ou seja, acrescentam-se muitos detalhes às obras de pintura, desenho ou escultura, para que esse se aproxime o máximo possível da realidade. Mas apesar das obras aproximarem-se da realidade a ponto de serem quase idênticos, não são a realidade. Essa simulação de realidade cria a ilusão de uma nova realidade, mais complexa e, principalmente, mais subjectiva.
Os hiper-realistas “fazem quadros que parecem fotografias”, afirma o crítico Gilles Aillaud por ocasião de uma exposição no Centro Nacional de Arte Contemporânea de Paris, em 1974. A frase traduz uma reacção corriqueira diante das obras, o que não quer dizer que os artistas deixem de assinalar as diferenças existentes entre pintura e fotografia. Richard Estes (1932), um dos grandes expoentes do novo estilo, é enfático: “Não acredito que a fotografia dê a última palavra sobre a realidade”. Mesmo assim, afirma, “o foto-realismo não poderia existir sem a fotografia”.
“A obra hiper-realista ‘não elabora, mas redobra/manipula o dado’. Ao mesmo tempo em que fixa, sem qualquer interpretação, notícias retiradas dos circuitos da informação, o artista hiper-realista despoja a técnica de toda historicidade, ao transformá-la numa ‘manufactura mecânica, que nada deve à história da arte’.” (FABRIS, pg.239)
Se pintura e fotografia não se confundem, a imagem fotográfica é um recurso permanente dos “novos realistas”, sendo utilizada de diversas maneiras. A foto é usada, antes de tudo, como meio para obter as informações do mundo, pinta-se a partir delas. O pintor trabalha tendo como primeiro registo os movimentos congelados pela câmara, num instante preciso.
Diversos artistas utilizam também a fotografia como suporte, pintando sobre a imagem revelada no papel. Observa-se também a utilização de técnicas pictóricas que permitem obter um resultado final similar à fotografia.
O hiper-realismo caracterizava-se por utilizar técnicas concretas como a utilização da perspectiva e da ilusão de óptica, para acentuar formas inexistentes e precisar detalhes. O uso do aerógrafo (airbrush), conseguindo uma pintura lisa, sem texturas nem empastes ou o recurso à superfície espelhada – painéis com espelhos, vidros e metal reluzente – são técnicas relevante tendência artística.
O hiper-realismo faz uso de clichês, de imagens prefabricadas e de elementos do quotidiano, num sentido inverso: buscando conferir a eles o valor artístico. Os pontos relevantes do hiper-realismo, baseiam-se pela: prioridade dos temas reais e quotidianos (como paisagens e pessoas), utilização da fotografia como fonte de informação e inspiração e o exigente índice de precisão dos detalhes (textura, luz, brilho e sombra). Além da utilização de cores e combinações, sempre correspondendo exactamente com a realidade recriada.
O mundo quotidiano retratado pelos hiper-realistas, em geral, refere-se aos aspectos banais, às cenas e atitudes familiares, aos detalhes captados pela observação precisa. Robert Bechtle (1932), por exemplo, se detém sobre o universo da classe média, tentando recuperar pelo banal uma experiência mais ampla.
Na escultura, destacam-se os nomes de Duane Hanson (1925), que constrói figuras em fibra de vidro, com trajes e acessórios reais como é o exemplo de Supermarket Lady de 1970.
References:
FABRIS, Annateresa. O debate crítico sobre o Hiper-realismo. ArtCultura, Uberlândia, v. 15, n. 27, p. 233-244, jul.-dez. 2013 – Artigo publicado originalmente em artcultura, v. 8, n. 12, jan.-jun. 2006.
KULTERMANN, Udo. New realism. Graphic Society. New York
MEISEL, Louis K. Photo-realism. Foreword by Gregory Battcock. Harry N. Abrams, Inc., Publishers. New York, 1981
NOCHLIN, Linda. Realism now. In: BATTCOCK, Gregory. (org.). Super realism: a critical anthology. Dutton. New York, 1975
PRECKLER, Ana María. Historia del arte universal de los siglos XIX y XX, Volume 2. Editorial Complutense, 2003
XURIGUERA, Gérard. Les figurations – de 1960 à nos jours. Éditions Mayer. Paris, 1985