Transferência

Conceito de Transferência

Conceito central para a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica, continua ainda a ser objecto de reflexão.

A transferência será o conjunto de todas as formas pelas quais o paciente vivência com a pessoa do terapeuta, na experiência emocional da relação analítica, todas as representações que ele tem do seu próprio self, as relações objectais que habitam o seu psiquismo e os conteúdos psíquicos que estão organizados como fantasias inconscientes.

O conceito de transferência foi introduzido por Freud. Este via os mecanismos de transferência como um arquivo de imagens infantis no sistema inconsciente, a partir do qual surge a dinâmica da actual relação do paciente com o analista. A relação do paciente com as figuras significativas da sua infância seria revivida na transferência: o paciente faria, inconscientemente, com que o terapeuta desempenhasse o papel dessas figuras amadas ou temidas (e.g. o pai, a mãe, os irmãos).

A repetição na transferência de experiências do passado não é referida por Freud com um sentido realista/efectivo: o que é transferido é a realidade psíquica, o desejo inconsciente e os fantasmas, os seus equivalentes simbólicos. A repetição poderia libertar as lembranças reprimidas e assim evitar uma compulsão à repetição, isto é, o constrangimento em repetir as experiências infantis.

A importância da transferência tornaria desejável o estabelecimento, até certo ponto, de uma neurose de transferência. Esta constitui-se quando a líbido originariamente investida nos sintomas se concentra na relação com o analista realizando-se o deslocamento da neurose para um terreno em que o analista passa a ser uma personagem central em torno de quem se organizam os fantasmas do paciente.

Em A Dinâmica da Transferência (1912), Freud distingue a transferência positiva feita de amor e ternura da transferência negativa feita de sentimentos hostis e agressivos.

Com a evolução da teoria psicanalítica surgiram novas concepções de transferência. Os teóricos das relações de objecto (e.g. Melanie Klein, Ronald Fairbairn, Donald Winnicott) perpectivaram a transferência quer como a distorção de uma relação de objecto primária projectada no analista, quer como uma resposta à personalidade do psicanalista e à relação estabelecida com ele.

A psicologia do self, desenvolvida por Heinz Kohut, propõe uma terceira concepção de transferência. Kohut identifica um conjunto de transferências que reflectem privações na ligação entre o paciente e os objectos primários. Assim, mais do que distorções do passado, as transferências indicariam as necessidades não cumpridas no passado e a presença delas providenciaria a oportunidade para o desenvolvimento das ligações necessárias à preservação, coerência e estabilidade do self.

Qualquer tratamento psicanalítico /piscodinâmico requer que se intervenha tendo em conta a dinâmica transferencial. A compreensão da transferência por parte do terapeuta, permite que ele interprete ao paciente o que este esqueceu e o que está inconscientemente na origem do seu sofrimento o que, através da devida elaboração por parte do paciente, poderá possibilitar a mudança psíquica.

Referências Bibliográficas

Bateman, Anthony e Jeremy Holmes. Introdução à Psicanálise: Teoria e Prática Contemporâneas.  Lisboa: Climepsi, 1998.

Laplanche, Jean. e J.-B. Pontalis. Vocabulário da Psicanálise. Lisboa: Presença, 1970.

Kazdin, Alan E.  (Ed.). Encyclopedia of Psychology, Vol. 8. Washington D.C.: American Psychological Association and Oxford University Press, 2000.

Zimerman, David. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1999.

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