Gilles Deleuze

Gilles Deleuze (1925-95) foi um importantíssimo filósofo do século XX, cujas críticas do essencialismo e do racionalismo serviram de pedra angular para as subsequentes teorias da pós-modernidade e pós-estruturalismo.

Gilles Deleuze (1925-95) foi um importantíssimo filósofo do século XX, cujas críticas do essencialismo e do racionalismo serviram de pedra angular para as subsequentes teorias da pós-modernidade e pós-estruturalismo.

O ponto de vista filosófico elaborado por Gilles Deleuze sublinha a possibilidade imanente de transformação manifesta nas coisas em si. Corpos, objetos, ideias e formações sociais possuem de igual modo e inerentemente a potencialidade para a diferença e para o desvio. Esta postura era contraditória ao alvo interlocutório de Deleuze, Friedrich Hegel (e, de modo geral, todos os autodenominados hegelianos), o qual sustentou que toda a mudança deveria ser vista como o resultado de encontros externos ou “negações” impostas de fora. O projeto filosófico de Deleuze seguia na senda de Nietzsche, ao enfatizar a propriedade afirmativa das coisas, e entrelaçando o agente e o próprio ato, negando conceitos filosóficos tradicionais como causalidade, vontade e intenção. Deveras, a obra filosófica de Deleuze define-se por interrogações do cânone filosófico desde Platão a Nietzsche, Espinosa, Bergson e Hume, uma vez que nestes autores é nítida a tónica nas propriedades imanentes do devir e da mudança.

Estas temáticas foram desenvolvidas e amplamente aplicadas a um extenso raio de arenas sociais e políticas através de livros em que Deleuze colaborou com o seu parceiro de escrita de longa data, Félix Guattari. Notavelmente, foi por intermédio de uma investigação, bipartida em dois volumes, sobre o nexo social, cultural e psicológico contemporâneo, e a qual Deleuze intitulou como “Capitalismo e Esquizofrenia”, que grande parte dos conceitos deleuzianos relativos à diferença imanente foram problematizados e exportados para outros campos das ciências sociais e humanidades. Na obra previamente mencionada, Deleuze avançou com uma nomenclatura identificável e estilo retórico, cuja influência se estendeu para planos como a sociologia, estudos culturais, estudos dos media, para se mencionarem casos exemplares fortuitos.

Definido por Michel Foucault nas páginas iniciais como uma introdução ao antifascismo (não o fascismo do estado político, mas sim o fascismo da mente ao qual nós, enquanto membros de sociedades capitalistas, nos entregamos), a obra Anti Édipo (Deleuze e Guattari, 1977), recorrendo à psicanálise de Freud, e conjugando-a com tese de Deleuze sobre a capacidade generativa das coisas, fornece uma crítica da economia política capitalista. Neste livro é oferecida uma visão do desejo não como sendo reativo (tal como é ditado pela lei do desejo edipiano), mas antes como uma capacidade ativa e produtiva, capaz de afirmar novas diferenças e investir em novos objetos. Deleuze e Guattari discutem mesmo o sucesso do capitalismo em negar ao desejo a sua qualidade afirmativa e criativa através, incorporando-o em fluxos e cadeias de produção governadas por sistemas abstratos (como dinheiro) totalmente divorciados dos contextos e corpos nos quais são gerados. Contra estas limitações, o livro prescreve diferentes fluxos de desejo e produção, cujos padrões escapam aos efeitos “edipizantes” do capital através de linhas de voo não linear: optando por múltiplas direções ao invés de um caminho só; recusando ser o mesmo; escapando à captura deslizando entre as categorias dominantes que ameaçam consignar o desejo a territórios e propósitos específicos. Mil Platôs, (1987) continua esta interrogação, acrescentando a frase que se tornou vulgarmente associada à contribuição de Gilles Deleuze:

Ainda que a filosofia túrgida e excêntrica de Deleuze tenha atraído a crítica de inúmeros sociólogos, o pensamento deste acabou por se revelar essencial em inúmeras correntes de pensamento, como a teoria da pós-modernidade, onde são considerados os processos não lineares e não teleológicos em alternativa às narrativas modernas do progresso, diferenciação social e mudança. Por último, as ideias de Deleuze foram significantes para as novas teorias da globalização, virtualidade e Internet, e em conceções alternativas da resistência em complemento ao marxismo tradicional.

 

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References:

Massumi, B. (1992) A User’s Guide to Capitalism and Schizophrenia: Deviations from Deleuze and Guatari. MIT Press, Cambridge, MA.

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