Orientalismo

No decorrer do século XVI teve início uma prática denominada como orientalismo, isto é, o estudo de teólogos cristãos, escolásticos humanistas, cientistas naturais e sociais, sobre o “Oriente” e as respetivas artes, línguas, ciências, histórias, crenças, culturas e povos orientais.

No decorrer do século XVI teve início uma prática denominada como orientalismo, isto é, o estudo de teólogos cristãos, escolásticos humanistas, cientistas naturais e sociais, sobre o “Oriente” e as respetivas artes, línguas, ciências, histórias, crenças, culturas e povos orientais. Os escritores orientalistas consideraram o “Oriente” como consistindo em sociedades geograficamente situadas a oriente da Europa Cristã a serem exploradas, adquiridas, e colonizadas para obtenção da matéria-prima, mão-de-obra, e remanescentes sumptuosos de uma civilização em declínio. A seu jeito, estas explorações coloniais resultaram na criação de categorias pelo homem, imaginação de geográficas e demarcações políticas classificadas como o Próximo Oriente, o Médio Oriente, a Ásia Central, o Extremo Oriente, as Ilhas do Pacífico, o Novo Mundo, e o “Continente Negro”.

Sensivelmente desde 1950, a investigação orientalista tem vindo a criticar seriamente a duvidosa criação do Outro exótico, e a incorporação cultural dos projetos imperialistas do primeiro mundo. Tais críticas lançaram objeções à garantia de validade, objetividade e autoridade de tópicos escolásticos como o Islão, o Médio Oriente e as relações internacionais, a Civilização indiana, e a também a filosofia chinesa. Complementarmente, culpabilizam o Orientalismo de cumplicidade na dominação política e económica, e na reestruturação do “Oriente” por intermédio da negação, distorção e supressão das experiências vividas sob o imperialismo ocidental, nomeadamente a premissa da superioridade cristã em temas como o conhecimento, o comércio, as relações de género e as mundividências.

O teórico cultural Edward Said ofereceu, na notável obra intitulada Orientalismo (1978), um estudo sustentado do discurso eurocêntrico, isto é, o modo como o ocidente se representou a si próprio inocente, objetivo e bem-intencionado. Assim, o orientalismo não se baseia meramente na produção negativa de estereótipos negativos descontextualizados: adicionalmente, os EUA, a Inglaterra, a França – entre outros académicos -, produziram retratos preconceituosos que acentuam sintomaticamente o contato real com o “Outro”, quer dizer, tentativas de explicação e justificação dos projetos imperialistas durante o período respetivo das conquistas e dos impérios. No âmbito do extenso manancial de representações orientalistas, Said destacou a produção de discursos racializados em torno das artes, media, política e ciências sociais, que mais não eram do que abstrações errôneas, em particular, de grupos que praticavam o Islão, e sociedades do Médio Oriente. A título de exemplo, para legitimarem e manterem a dominação desde finais da década de 60, os orientalistas americanos representaram o Médio Oriente como um cenário islâmico a pulsar com terroristas e bárbaros, e negaram a realidade histórica, vivida, religiosa e racicamente diversa, dos Palestinianos destituídos de uma terra. O desdobrar estratégico de tais narrativas orientalistas impulsionou uma política global e um engajamento cívico toldados por imagens distorcidas referentemente à complexidade social de milhões de praticantes do Islão e habitando o terceiro mundo.

Compreendido mais de meio século de estudos e tentativas rigorosas de atenuação do orientalismo e da sua contribuição ao serviço de programas imperialistas, este fenómeno persiste amplamente no mundo ainda, encontrando-se igualmente disseminado na sociologia entre outros campos de conhecimento e poder. Não raras vezes, os que celebram a economia neoliberal, a globalização cultural, o intervencionismo político ocidental, e os defensores e praticantes do orientalismo, revelam um provincianismo paroquial no tipo de comentários que tecem. Ultrapassar a paroquialidade de tais comentários orientalistas, requer a obrigatoriedade de se produzirem diálogos geracionais e não nocionais, isto é, discursos responsáveis que defendam os horizontes plurais da humanidade, e não um único modelo real.

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References:

Said, E. (1978) Orientalism. Vintage, New York.

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