Georges Bataille (1897-1962), nasceu em Billon, Puy de Dôme, na França central, tendo-se convertido ao catolicismo no despertar da Primeira Grande Guerra, onde acabou por servir o exército entre o período que dista de 1916 a 1917. Mais tarde, juntou-se ao seminário de Saint Fleur, e cumpriu algum tempo na congregação beneditina de Quarr, na ilha de Writh, em Inglaterra. Em 1922 torna-se responsável por gerir a Biblioteca Nacional de Paris, posição esta que Bataille manteve até 1944, sendo que posteriormente acabou por desempenhar a função de bibliotecário em Carpentra, Provença, e de igual modo em Orléans. Através da edição da revista Critique, Bataille proporcionou espaço aos novos intelectuais franceses, como Michel Foucault, Roland Barthes, Jacques Derrica, e Gilles Deleuze.
Intelectualmente, Bataille foi um membro convulso do movimento surrealista durante grade parte da década de 1920, autodenominando-se mesmo como o “inimigo interior”; e através da obra filosófica do pensador alemão Friedrich Nietzsche, acabou por se interessar ardentemente pelas noções de “erotismo”, “horror”, e “obscenidade”, acabando por produzir grande parte da sua literatura em torno de tópicos como a transgressão, o excesso, o mal, o sacrifício, Marquis de Sade, e o desejo. Bataille sempre se envolveu apaixonadamente pelos limites do intelectualismo, apresentando uma notável sede pelo excesso, a violência, e também o inaceitável. Com Nietzsche aprendeu e reteve a lição de que o segredo para o ser disfrutar dos prazeres da existência autêntica, é levando uma vida perigosa em todos os contornos possíveis.
O mais importante trabalho de Georges Bataille, isto é, o que com maior peso foi legado a uma geração posterior de intelectuais das humanidades e ciências sociais, prende-se com a temática da transgressão. Grande parte desse trabalho demonstra a prolixa intimidade de Bataille quanto aos efeitos da marcha da racionalização numa sociedade disciplinar e constrangida, onde o carnaval entre outras festas, se tornaram necessárias para a constituição da identidade individual. A transgressão, o crime, e o comportamento antissocial, tornaram-se em elementos determinantes para Bataille criticar o capitalismo desenvolvido, concluindo que não existe nenhuma proibição que não possa ser transgredida, uma vez que a natureza dos interditos torna possível uma ordem racional, mas também o seu inverso, uma vez que, como diz o adágio popular, “o fruto proibido é o mais apetecido”. Assim, é depois de Bataille que começa o debate moderno sobre a fascinação, e também medo, pelo trabalho social de limite (na margem do razoável), e também sobre o sublime sentimento que surge após um ato criminoso ou transgressor: dir-se-á que dois sentimentos assaltam habitualmente o homem, sendo o primeiro o terror, e o segundo um fascínio doente por esse terror; assim, o interdito e a transgressão refletem essas duas urgências contraditórias, pois o interdito proíbe a transgressão, mas a fascinação leva à sua concretização. Este delicioso terror alcançado após a transgressão emana, segundo Bataille, da violência e do erotismo, uma vez que a penumbra da nossa vida social é o lugar onde vivemos a nossa vida tão banal e repleta de tédio. Em suma, a crueldade e o erotismo são intenções conscientes numa mente que optou por transgredir os limites impostos pelas convenções socioculturais: por intermédio destas duas dimensões, apoderamo-nos da energia indispensável à vida social e à criatividade.
References:
Bataille, G. (1985) Visions of Excess: Selected Writings, 1927 1939. Trans. A. Stoekl. Manchester University Press, Manchester.