Quem é Haruki Murakami?
Haruki Murakami é um reconhecido escritor contemporâneo japonês, já traduzido em mais de 40 línguas. Nas suas histórias misturam-se realidades, perde-se a noção do tempo, confundem-se memórias.
Murakami nasceu a 12 de janeiro de 1949 em Quioto, mas a sua infância foi passada em Kobe. Cresceu numa sociedade ainda mergulhada nas memórias da violência de uma guerra recente e tal poderá ter motivado um certo afastamento que se lhe reconhece em relação à condição japonesa da altura e à própria cultura japonesa. A janela para o exterior acabou por ser a literatura americana, especialmente Truman Capote, F. Scott Fitzgerald, John Irving, Raymond Chandler – Breakfast at Tiffany’s e The Great Gatsby foram, aliás, algumas traduções do inglês para o japonês da sua autoria. James Joyce e Franz Kafka também estão entre os seus favoritos.
O momento decisivo de Haruki Murakami
Segundo se diz, Murakami estava, em 1978, a assistir a um jogo de baseball entre os Yakult Swallows e os Hiroshima Carp, quando Dave Hilton fez um double – foi nesse exato momento, numa espécie de revelação, que soube que podia escrever um romance. E foi nesse dia que começou a escrever. Em 1979 foi publicado Hear the Wind Swing, que ganhou imediatamente o Gunzou Literature Prize for budding writers.
Apesar de sempre se ter acompanhado de livros, o percurso de Murakami parecia, antes deste momento decisivo, tender para o cinema: estudou cinema e artes teatrais na Universidade de Wasedo, Tóquio, altura em que estava mais focado em aprender a fazer filmes. Segundo Haruki Murakami, nessa fase considerava não ter o talento nem as qualificações necessárias para ser escritor, pelo que preferia ler bons romances em vez de escrever um de qualidade medíocre.
O momento de viragem para Haruki Murakami
Até à publicação de Norwegian Wood, em 1987, Murakami era um autor de culto entre os leitores mais jovens. Com a publicação deste livro, atingiu os três milhões e meio de vendas e tornou-se popular para além de quem já o lia. Norwegian Wood é o seu único livro de realismo puro – Haruki diz preferir escrever histórias sobre acontecimentos anormais com gente normal.
“Não escrevas sonhos”, diz uma personagem de Murakami
Nas histórias de Haruki Murakami, os sonhos confundem-se frequentemente com memórias. Daqui surge um tempo com um compasso diverso daquele a que nos habituamos e a realidade perde os seus limites. Nas histórias de Murakami, a realidade e o sentido da vida não são elementos exteriores, tudo se passa dentro de cada indivíduo.
Murakami explica que a sua inspiração vem da capacidade de manipular, conscientemente, os seus sonhos, o seu inconsciente. Para o autor, escrever um romance é como ter um sonho, como descer ao inconsciente, o que acaba por ser bastante real.
A inspiração, diz, é como procurar algo numa sala escura, pelo que é necessária toda a ajuda possível.
Elementos Murakamianos
- Mulheres: com vidas interiores complexas, a roçar a insanidade, são uma espécie de ligação com o mundo dos sonhos. Exemplos disso são Aomame e o mundo da lua mais pequena, em 1Q84; Sumire e Miu, em Sputnik, meu amor e Kiki em Dança, Dança, Dança.
- Gatos: surgem naturalmente nas suas histórias porque o autor sempre se viu rodeado deles. Há, inclusivamente, gatos que falam, com em Kafka à beira-mar: “- How can you talk? – How can you understand me?” (2011), pode ler-se na obra.
- Música: a música é uma paixão e, como tal, presença constante nas histórias de Murakami. Rock, música clássica, mas especialmente o Jazz, são um estímulo para a sua escrita e, por isso mesmo, elementos sempre presentes nas histórias murakamianas. O escritor foi, com a sua mulher, dono de um bar de Jazz, o Peter Cat, e toca teclado. A este propósito, diz que começou a escrever da mesma forma que tocava: a cena principal correspondia ao ritmo, à melodia e ao improviso.
- Personagens que vivem isoladas da sociedade: Haruki Murakami tem uma curiosidade particular por personagens que, de uma ou outra forma, estão isoladas do mundo. Nakata, de Kafka à beira-mar, é uma das suas favoritas.
Haruki Murakami e a não ficção
Para além dos romances, o autor tem publicadas obras de não ficção. Depois de ter entrevistado vítimas do terramoto de Hanshin e do ataque de gás ao metro de Tóquio, ocorrido em 1995, publicou dois volumes que formam a série Underground. Tem ainda publicado The things I talk about when I talk about running, um conjunto de ensaios acompanhados de várias e raras fotos do escritor a correr.
Raras porque Haruki Murakami não gosta de aparecer – preza o anonimato e a privacidade. Aquilo que é seu, diz, deve manter-se intocado.
References:
MURAKAMI, HARUKI (2011), Kafka à beira-mar, Casa das Letras.