Edward W. Said nasceu em Talbiyeh, Jerusalém (ainda sob a égide do controlo Britânico), no seio de uma família de árabes cristãos. Passou grande parte da sua infância no Egito com a sua família e no Líbano. A criação do Estado de Israel em 1948 resultou no exílio de Edward Said, permanecendo afastado da Palestina durante grande parte da sua vida. Por conseguinte, frequentou o ensino secundário e superior dos EUA, começando a sua carreira em Literatura Inglesa e Comparativa na Universidade de Columbia, onde em 1972 se tornou professor. Os trabalhos mais importantes de Said são: Orientalism (1978), Covering Islam (1981), Culture and Imperialism (1993), e Representations of the Intellectuals (1994). Said morreu em 2003 após batalhar a leucemia durante 12 anos.
Pensamento
Said é sobretudo conhecido como crítico literário e como ativista político. Referentemente ao ativismo político, suportou a causa palestina como resposta à abominável declaração de Goldameir em 1969, onde este afirmou que os palestinianos não eram uma entidade e como tal, não existiam. Tal infâmia motivou Edward Said a assumir o absurdo desafio de desaprovar Goldmeir, e tal ato seria concretizado à luz da articulação de uma história de perda e despossessão que deveria ser extricada “minuto a minuto, palavra por palavra, centímetro por centímetro”. Não se devem distinguir os interesses políticos de Said das suas preocupações literárias, uma vez que neste plano também lidou com a crítica do conhecimento herdado e com a geração dos discursos alternativos. É nos cambiantes que esta perspetiva surtiu, que reside a relevância para a sociologia, quer dizer, no que concerne ao estudo do Orientalismo enquanto ideologia condicionada por interesses coloniais e imperiais.
Um importantíssimo aspeto nos antecedentes que conduziram à originalidade da atividade intelectual e pensamento político de Edward Said, prende-se com a formação do Estado de Israel, que resultou na remoção de grandes massas de palestinianos, e a emergência de um discurso que distorceu estas realidades. Em grande medida, este foi um simplesmente um caso específico do fenómeno mais geral do colonialismo, descolonização, e os discursos europeus e americanos que acompanharam as construções do mundo árabe e muçulmano. De qualquer modo, houve o problema da perda e despossessão, pelo que Said sentiu a necessidade de resistir a tal discurso.
Embora o campo principal de Said tenha sido a crítica literária, este acrescentou uma dimensão sociológica ao implicar nos seus escritos o contexto do colonialismo e do império. Na obra Orientalism, Said defendeu a falta de correspondência entre o que era o dito orientalismo e o próprio oriente, criticando o orientalismo como um discurso que funcionada para sistematicamente gerir e produzir o oriente em termos que iam do político ao sociológico, do militar ao ideológico, e do científico ao imaginário. Tal manipulação efetivou-se durante o período histórico que se seguiu ao Iluminismo Europeu. Portanto, o livro Orientalism expôs estes modos discursivos de distorção. É precisamente nesta modalidade do trabalho de Said que reside a sua interessante sociologia do conhecimento, uma vez que o orientalismo é conjugado como uma reflexão de um vasto leque de interesses que, através de meios como a descoberta escolástica, investigação filológica, análise psicológica, descrição paisagística e sociológica, não só criam o “Outro” como o mantêm. Isto, em termos sociológicos, equivale ao estudo do orientalismo como ideologia, e intrinsecamente relacionado aos projetos coloniais e imperialistas.
References:
Said, E. W. (1978) Orientalism. Pantheon Books, New York.