Nascido em 1921 em Wales, Raymond Williams estudou na Universidade de Cambridge e, depois de cumprir o serviço militar em tempo de guerra e deter uma posição académica inicial em Oxford, voltou permanentemente a Oxford como Leitor de Inglês em 1961, tornando-se subsequentemente Professor de Drama em 1974. O trabalho de Williams tomou um rumo diferente a partir da década de 70, o que se deve sobretudo à exposição deste à tradição continental do “marxismo ocidental”, que a revista New Left Review tornou amplamente acessível em tradução inglesa. Este engajamento deu o fruto mais distinto na obra Marxism and Literature (1977), na qual Williams, comprometido com a posição marxista, tentou, no entanto, reformular a doutrina.
Socialista durante grande parte da sua vida, Williams foi um membro ativo do Partido Trabalhista e uma figura central na nova esquerda britânica. Este envolvimento político entre outras atividades providenciaram os horizontes para o seu trabalho intelectual: tal assumiu várias formas, desde o sucesso moderado como romancista ao comentário político e cultural, até aos estudos especializados sobre géneros literários e dramáticos específicos. Sem dúvida nenhuma que o maior impacto provocado por Raymond Williams foi na teorização da relação entre cultura e sociedade, uma vez que os seus pontos de vista foram interiorizados influentemente no campo da sociologia e dos estudos culturais, e onde, com as devidas alterações e críticas, permanecem como o vulto do mestre.
Tal como desenvolveu em Culture and Society (1958) e The Long Revolution (1961), o principal objetivo de Williams era disputar e disponibilizar alternativas, aos termos à luz dos quais as relações entre cultura e sociedade se debatiam no pensamento social britânico nos séculos XIX e XX. Revisitando os escritos de Samuel Taylor Coleridge John Ruskin, Matthew Arnold, T.S. Eliot entre outros, Raymond Williams adereçou a noção de cultura nestes autores como elitista, associada a um sentido de perfeição que deveria ser defendido contra a influência decadente da cultura de massa. Objetando que não existem “massas”, apenas diferentes modos de ver pessoas como massas, Williams desafiou esta tradição de pensamento com recurso as duas premissas: em primeiro lugar, recorrendo ao conceito antropológico de cultura proposto por Edward Tylor na obra Primitive Culture (1871), Williams argumentou que qualquer compreensão contemporânea e socialmente viável de cultura, deveria abarcar não só a tradição da alta cultura, mas também as crenças, costumes e tradições das diferentes classes sociais; a segunda contenção prendia-se com a ideia de que estas mundividências não deveriam ser estudadas isoladamente, uma vez que a análise sofisticada englobaria a complexa teia de relações organizadas nas interações entre as diversas mundividências. Williams atribuiu a estas múltiplas mundividências uma complexidade padronizada a que chamou o carácter estruturante do sentimento em dado período.
Se nos trabalhos prévios Williams distanciou-se das formulações marxistas sobre a relação entre cultura e sociedade, na obra Marxism and Literature nota-se a influência de Antonio Gramsci, Lucien Goldman entre outros, o que orientou Williams a uma leitura mais favorável do pensamento marxista, ainda que tenha discordado sobre as implicações deterministas da metáfora base/superestrutura nas relações entre cultura e sociedade.
Existem inúmeros comentários críticos sobre a vida e trabalho de Williams, e uma biografia (Inglis, 1995). Contudo, Willias sempre comentou sobre a sua vida enquanto parte do seu trabalho, num modo bem distinto de qualquer tentativa biográfica, pelo que as entrevistas concedidas à New Left Review constituem as manifestações mais absorventes do seu trabalho e vida.
Outros textos centrais de Raymond Williams foram The Country and the City (1973), Television: Technology and Cultural Form (1974), Keywords (1976).
References:
Inglis, F. (1995) Raymond Williams. Routledge, London and New York.