Citogenética Convencional e Citogenética Molecular na Caracterização Genética Molecular
Autor: Maria João Valente de Oliveira
Orientador: Sérgio Castedo
Mestrado em Oncologia
Faculdade de Medicina
Universidade do Porto
(Localização: Repositório Aberto da Universidade do Porto)
Resumo
As síndromes mielodisplásicas (SMD) são um grupo de doenças clonais das células progenitoras hematopoiéticas pluripotentes, caracterizadas por hematopoiese ineficaz, displasia em uma ou mais linhagens celulares mielóides, citopenias periféricas, e aumento do risco de desenvolvimento de leucemia mielóide aguda. Embora nenhuma anomalia cromossómica seja patognomónica das SMD, a análise citogenética constitui parte integrante na caracterização destas doenças, fornecendo informações importantes para o diagnóstico e definição do prognóstico. Nos doentes com SMD as anomalias cromossómicas permitem confirmar a clonalidade da doença, identificar categorias clínicas e biológicas específicas, estratificar os doentes em categorias de prognóstico, prever a probabilidade de progressão para leucemia mielóide aguda e a sobrevida global, fazer o diagnóstico diferencial, e seleccionar os doentes que podem beneficiar de terapias inovadoras. Além disso, o estudo citogenético sequencial da medula óssea dos doentes, em diferentes estádios da doença, possibilita a avaliação da eficácia do tratamento através da monitorização do tamanho do clone neoplásico anormal. As anomalias cromossómicas clonais ocorrem em 30-50% dos doentes com SMD primária e em 95% dos casos de SMD secundária. As alterações cromossómicas mais comuns asssociadas às SMD incluem: deleção do braço longo do cromossoma 5, monossomia 7, deleção do braço longo do cromossoma 7, trissomia 8, deleção do braço curto do cromossoma 17, e deleção do braço longo do cromossoma 20. Contudo, uma grande proporção de doentes (30 a 50%) apresenta cariótipo normal no diagnóstico. Neste grupo de doentes, extremamente heterogéneo do ponto de vista biológico, a evolução clínica é frequentemente imprevisível. As técnicas de citogenética convencional e a hibridação in situ com fluorescência constituem os métodos mais frequentemente utilizados na detecção das anomalias cromossómicas nas SMD. Segundo alguns investigadores, a eventual incapacidade de divisão apropriada in vitro do clone anormal dificulta a detecção das anomalias cromossómicas pelas técnicas de citogenética convencionais, pelo que esta metodologia pode subestimar a frequência destas alterações genéticas. De acordo com o proposto por alguns investigadores, os clones ocultos não detectados por citogenética convencional podem estar envolvidos na progressão dos casos de SMD com cariótipo normal para leucemia aguda. Assim, a detecção destas anomalias ocultas exige a aplicação de metodologias mais sensíveis, tais como a hibridação in situ com fluorescência em células interfásicas. De facto, alguns estudos de FISH detectaram a presença de anomalias ocultas em casos de SMD sem alterações cromossómicas. O presente estudo teve como principal objectivo avaliar a eficácia da técnica de hibridação in situ com fluorescência, na detecção das anomalias cromossómicas mais comuns (-5/5q-, -7/7q-, +8, 20q-) num grupo de doentes com SMD com cariótipo normal. Com o painel de sondas de FISH utilizado, não foram detectadas anomalias citogenéticas clonais nos doentes com cariótipo normal, tendo sido apenas detectadas anomalias nos casos com cariótipo anormal, confirmando os resultados obtidos por citogenética convencional. A técnica de FISH detectou uma anomalia adicional apenas num doente, nomeadamente trissomia 8, o qual apresentava um cariótipo anormal com deleções 5q- e 7q-. Apenas nesse caso foi observada discrepância entre os resultados do cariótipo e FISH. Contudo, a análise de FISH apenas contribuiu para a redefinição das anomalias observadas no cariótipo, tendo o risco citogenético permanecido inalterado, dado que a anomalia do cromossoma 7, observada no cariótipo deste doente, é factor independente de mau prognóstico. Os resultados deste estudo sugerem que as análises de FISH têm uma utilidade limitada nos casos de SMD com cariótipo normal. De facto, diferentes estudos de FISH em doentes com SMD com cariótipo normal têm demonstrado benefícios adicionais variáveis. De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, a maioria das anomalias cromossómicas é detectada por técnicas de citogenética convencional, pelo que na prática clínica a estratégia de estudo mais sensata consiste na realização, sempre que possível, das análises citogenéticas convencionais nos doentes com SMD. A técnica de FISH deve ser realizada apenas quando o resultado da citogenética convencional é inconclusivo ou em casos de insucesso da cultura. Em conclusão, as técnicas de citogenética convencional (cariótipo) e molecular (FISH) devem ser encaradas como complementares na caracterização genética das síndromes mielodisplásicas.
Índice
Abreviaturas e símbolos
Resumo
Abstract
INTRODUÇÃO
- Epidemiologia das síndromes mielodisplásicas
1.1 – Incidência
1.2 – Diferenças entre os padrões epidemiológicos nos vários países
1.3 – Etiologia e Factores de Risco
- Patogénese das síndromes mielodisplásicas
- Caracterização clínico-patológica das síndromes mielodisplásicas
3.1 – Características clínico-patológicas
3.2 – Características citogenéticas
3.3 – Diagnóstico diferencial
- Classificação das síndromes mielodisplásicas
- Prognóstico das síndromes mielodisplásicas
- Tratamento das síndromes mielodisplásicas
OBJECTIVOS
MATERIAL E MÉTODOS
- Material
- Métodos
2.1 – Citogenética convencional
2.2 – Citogenética molecular
2.3 – Análise de dados
RESULTADOS
- Análises de citogenética convencional (cariótipo) e molecular (FISH)
- Comparação entre os resultados obtidos por citogenética convencional e molecular
DISCUSSÃO
- Considerações metodológicas
- Diagnóstico citogenético das síndromes mielodisplásicas – padrão de anomalias cromossómicas obtidos por citogenética convencional e molecular
- Potencial contributo da citogenética molecular (FISH) no estudo das síndromes mielodisplásicas
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS