O termo balcanização tem adquirido um significado que representa o processo de divisão de uma área geográfica, um país ou uma região, em diversas unidades antagónicas. A cunhagem do conceito remonta ao rescaldo da 1ª Guerra Mundial, quando o jornal New York Times o formulou para denotar a desagregação do Império Habsburgo em estados de reduzida dimensão, e hostis entre si.
O conceito de balcanização deriva da região que abrange o sudeste europeu, a península balcânica. Devido à sua localização geográfica e situação histórica entre o Império Otomano e Habsburgo, os inúmeros estados desta área têm sido sujeitos a uma frequente manipulação política dos poderes exteriores. Os Balcãs são constituídos pelos seguintes estados: Albânia, Bósnia Herzegovina, Bulgária, Grécia, República da Macedónia, România, Sérvia e Montenegro. Por vezes, a Eslovénia e o território turco “europeu” são incluídos nos Balcãs.
A diversidade populacional da região, os limites políticos em constante mutação, e a severa história de confrontos étnicos, nacionais e religiosos, constituem as características que tornam relevante o conceito de balcanização. Como se sabe, durante o século XX, a zona dos Balcãs esteve no centro de dois enormes conflitos europeus: primeiro, o arquiduque Francisco Fernando da Áustria-Hungria foi assassinado em Sarajevo em 1914, o que desencadeou a 1ª Guerra Mundial; segundo, a região esteve fortemente envolvida no conflito entre os Aliados e a União Soviética contra a Alemanha Nazi durante a 2ª Guerra Mundial. No final do primeiro conflito, os impérios Otomano e dos Habsburgos foi avassalado, e a Jugoslávia, em conjunto com outros estados independentes, foi criada. À exceção da Grécia e Turquia, todos estes estados caíram sob a esfera de influência da União Soviética entre 1945 e 1989.
Depois do colapso da União Soviética, aumentou a violência étnica, uma vez que as partes componentes da velha Jugoslávia lutaram para se realinharem numa nova realidade política. O massacre de Srebrenica, o cerco de Sarajevo, os conflitos no Kosovo, e a presença de Slobodan Milosevic na Corte Penal Internacional, consolidaram a imagem dos Balcãs como uma região de duradouras animosidades étnicas e religiosas.
Na realidade, o tipo de processos constantemente subsumidos no conceito de balcanização, são tão antigos quanto os conflitos humanos. São processos que se encontram com grande frequência em matrizes imperiais, onde os poderes coloniais utilizaram a tática de divisão e comando para iludirem os colonizados sobre a fonte primária da exploração. O sistema de comando indireto, empregue pelos britânicos em inúmeras colónias, ilustra atentamente a política calculada para prevenir a emergência de uma oposição unitária contra o comando estrangeiro: como a manipulação de grupos étnicos e religiosos até ao conflito entre si; o favorecimento de uma região em detrimento de outra; a importação de mão-de-obra de outras colónias de fundo linguístico e religioso diferente; a garantia de que as milícias locais fossem recrutadas a uma minoria étnica. Tais táticas eram estratégias comuns para o Império Britânico, e, ao passo que tiveram uma função útil para os colonizados, criaram ao mesmo tempo um perigoso legado de conflitos étnicos na era pós-colonial.
De facto, é possível argumentar que grande parte da instabilidade que se seguiu à independência do continente africano no período do pós-guerra, foi um resultado direto, ou, no mínimo, fortemente incentivado pelas políticas coloniais de natureza fragmentária.
A subdivisão de estados baseada na identidade étnica, nacional ou religiosa, nem sempre produz violência e conflitos, e, em alguns casos, pode ser utilizada como modo de solucionar confrontos, garantir os direitos das minorias, ou salvaguardar a autonomia regional, linguística ou religiosa. As constituições federalistas têm, com grande constância, conseguido preservar a integridade de estados multinacionais, como o exemplo clássico dos Cantões da Suíça: neste caso concreto, existem unidades linguísticas italiana, francesa e alemãs.
References:
Glenny, M. (2001) The Balkans: Nationalism, War and the Great Powers, 1804 1999. Penguin, Harmondsworth.
Todorova, M. (1997) Imagining the Balkans. Oxford University Press, New York.