- Nota Biográfica
Paul Heinrich Dietrich d’Holbach, Barão de Holbach (1723-89), foi um nobre de naturalidade alemã que passou a maior parte da sua vida em Paris, onde se familiarizou com grande parte dos pensadores principais do Iluminismo Francês. A própria casa de Holbach serviu durante muitos anos como um salão onde os intelectuais franceses se reuniam, e a título de tal estatuto, sabe-se que as seguintes figuras participaram nessas tertúlias: o enciclopedista Denis Diderot; o diplomata e crítico cultural Friedrich-Melchior Grimm; o naturalista Charles-Georges Le Roy; o escritor e crítico Jean-François Marmontel; o historiador e padre Guillame Raynal; o poeta e filósofo Jean-François de Saint-Lamber, entre outras personagens importantes.
Adicionalmente, Holbach foi um contribuidor fundamental para a criação da Enciclopédia: os seus escritos volumosos foram provavelmente considerados como perigosos e subversivos pelo Antigo Regime, pelo que foram publicados anonimamente ou sob pseudónimo no estrangeiro, e secretamente trazidos para França. Como tradutor, Holbach contribuiu substancialmente para o Iluminismo Europeu, sobretudo nos ramos da ciência e religião: traduziu obras alemãs de química e geologia para Francês, sumariando grande parte dos avanços alemães nestas áreas nas suas entradas na Enciclopédia de Diderot. Traduziu também, importantes obras inglesas sobre religião e filosofia política para francês.
- Pensamento
Holbach escreveu extensamente sobre ética e religião. Caracteriza-se esta literatura como um ataque ao Cristianismo e também ao deísmo, à mercê do qual são criticados os diversos pilares dos dois fenómenos religiosos, considerados por Holbach como falsos e perniciosos, uma vez que a sua existência sempre correspondeu a um arranjo institucional conjuntamente com os governos repressivos, e também porque a persistências das crenças e práticas religiosas, no sentido negativo, impediam notavelmente o progresso moral e a felicidade humana. A solução criada para reversão destes fenómenos, passa pelo ateísmo, considerado por Holbach como uma necessária reeducação no ensino moral e sua respetiva aplicação prática, ainda que Rosseau tenha ironizado que o ateísmo de Holbach incorporava no seu âmago todos os valores característicos às virtudes do cristianismo.
O ateísmo de Holbach é fortemente condicionado uma aceitação incondicional do materialismo e mecanicismo, encontrando-se tal pensamento exposto na influente obra Système de la nature (1770). As ideias dispersas pelo livro vão de encontro à elaboração de uma visão em que tudo o que é existente é material, sendo ficções as entidades transcendentes como Deus: o universo físico e as suas partes equivalem à soma total de todas as entidades existentes, e a construção plena do universo físico obedece completamente à consistência da matéria, consistindo no arranjo da matéria consoante vários estados do movimento material. A mesma lógica se aplica aos indivíduos que, destituídos de alma entre outros atributos metafísicos, acabam por ser meramente compostos complexos de partículas materiais.
Holbach concentrou-se igualmente no argumento de que todos os eventos num mundo material têm um lugar de acordo com leis naturais rigorosamente determinantes. Por conseguinte, a liberdade humana não é uma liberdade real: deste modo, ao invés de compatibilizar a ação livre com a ação absolutamente condicionada, Holbach primou por defender que as ações putativamente livres são ilusórias, em última análise provocadas por um fenómeno mental desconhecido e não escolhido, e como tal, não livremente decidido. No entanto, na filosofia de Holbach há espaço para o louvor moral e para a culpa, categorias do pensamento que preservam um valor funcional na medida em que contribuem como valores indispensáveis para a regulação da sociedade e para a felicidade humana no seu todo.
- Obras Principais
Le Christianisme dévoilé, 1761.
Système de la nature, 1770.
Le Bons Sens, 1772.
La Politique Naturelle, 1773.
Système Social, 1773.
La Morale Universelle, 1776.
Éthocratie, 1776.
References:
Ladd, Everett (2000), “Helvétius and d’Holbach”, Journal of the History of Ideias, 23 (2): 221-238.