Conceito de Glicemia
Os hidratos de carbono, também designados por sacarídeos, oses ou açúcares, são moléculas biológicas constituídas por carbono, oxigénio e hidrogénio. A glucose ou glicose é o hidrato de carbono mais abundante na Natureza, estando presente em todos os frutos bem como no mel. A glicose existe também em pequenas quantidades no sangue e na urina. O nível de glicose no sangue, ou Glicemia, sendo originada a partir da digestão de hidratos de carbono mais complexos. O sistema digestivo degrada estes hidratos de carbonos mais complexos em glucose usando sais biliares e enzimas, como por exemplo a insulina. A insulina, hormona produzida pelo pâncreas, é responsável pelo controlo da glicemia, sendo a sua produção maior quando a glicemia é mais elevada. O nosso corpo está adaptado de modo a manter os níveis ideais de glicose, armazenando-a no fígado sob a forma de glicogénio, assim esta pode ser reabsorvida quando o organismo se mostra necessitado. Este é o principal nutriente usado pelas células do corpo para obtenção de energia necessária para a realização de todas as funções celulares. A glicose diretamente é absorvida para o sangue a partir do intestino, o que resulta num rápido aumento do nível de glicose no sangue. No indivíduo normal em jejum a glicose é fornecida ao sangue pelo fígado e pelos rins.
A hiperglicemia (níveis excessivos de glucose) deve-se à presença de uma grande concentração de glicose no sangue, ou então a uma baixa concentração de insulina. A hiperglicemia levará a um decréscimo de libertação da glicose a partir do fígado, bem como o aumento de utilização da mesma. Há, simultaneamente, aumento da secreção da insulina, estimulada pelo aumento da glicemia.
Por outro lado, a hipoglicemia (baixa concentração de glucose no sangue) pode resultar de uma absorção de glicose muito baixa a partir dos alimentos ou de uma excreção de insulina muito elevada. A hipoglicemia causa a diminuição da secreção de insulina o que leva ao aumento da produção de glicose e menor utilização da mesma, por conseguinte, a glicemia aumenta. Quando os níveis de glicose caem para níveis hipoglicémicos, as células deixam de funcionar normalmente, desenvolvendo-se alguns sintomas como dor de cabeça, confusões, convulsões ou mesmo coma. No caso de os níveis de glicose no sangue não serem regulados de forma apropriada pode levar ao aparecimento da Diabetes.
Deste modo o corpo humano possui mecanismos para regular a glicemia, permitindo manter a glicose dentro de determinados valores, considerados normais. No ser humano adulto, a glicemia média varia entre os 60mg/100mL e os 100mg/100 ml. Quando a concentração de glicose sanguínea é inferior a 60mg/100ml, o organismo passa a estar num estado de hipoglicemia. Este estado estimula a secreção de um conjunto de hormonas (ex.: glucagon), cuja ação estimula a glicogenólise (degradação do glicogénio que está armazenado no fígado) e a gliconeogénese (síntese de nova glicose a partir de aminoácidos). Nos casos em que a glicemia atinge valores elevados, isto é, acima dos 100mg/100ml também é desencadeada uma série de eventos que conduzem à reposição dos valores normais de glicemia, como a secreção de insulina, que estimula a glicólise (utilização da glicose pelas células levando a que a glicose seja “gasta”), e a glicogénese (síntese de glicogénio para posteriormente poder ficar armazenada no fígado).
O processo de glicogénese, que ocorre no fígado, e a utilização periférica da glicose são sensíveis a desvios relativamente pequenos da glicemia normal. Esta utilização da glicose é detetada pelo organismo e quando há elevação da glicemia, ambos os processos (glicólise e glicogénese) aumentam, caindo o nível da glicose sanguínea, caso contrário o ocorre o inverso trabalhando no sentido de diminuir a glicemia. Significa isto que a glicemia é regulada, por um lado, pela insulina, e por outro pelas hormonas contra-regulatórias como é o caso do glucagon, adrenalina cortisol e da hormona do crescimento (GH). A relação entre todos estes dois tipos de hormonas (mais do que as suas concentrações absolutas) determina o equilíbrio metabólico da glicose (principalmente a relação insulina: glucagon). Em casos de jejum prolongado, por um período de horas ou dias, tanto a hormona do crescimento como o cortisol são secretadas diminuindo a taxa de utilização da glicose pela maioria das células do corpo, voltando-a para a utilização de quantidades maiores de gordura.
O aumento da quantidade de insulina que chega ao fígado aumenta a velocidade da glicogénese, diminuindo a síntese de glicogénio no fígado (gliconeogénese). Esta produção diminuída de glicose a partir do fígado e maior utilização deste açúcar leva a que consequentemente a glicemia diminua. A este respeito, é interessante salientar que a glicemia é o factor mais importante que regula a secreção de insulina, a qual aumenta aquando o aumento da glicemia e vice-versa.
O glucagon, por sua vez, opõe-se aos efeitos da insulina, estimula o catabolismo proteico (necessário á gliconeogénese), a mobilização de lípidos, lipólise e cetogénese, a glicogenólise e a gliconeogénese, atuando de modo semelhante à adrenalina.
É importante salientar que quando este sistema de regulação da glicemia falha é necessário que o organismo atue por outra via de modo a obter a energia necessária para as suas normais funções. Como a glicose é o único nutriente que normalmente pode ser usado pelo cérebro, pela retina, hemácias e pelo epitélio germinativo das gónadas, este nutriente deverá estar sempre disponível para estes sistemas sendo necessário que os restantes sistemas tenham uma fonte de energia alternativa. Esta fonte de energia alternativa poderá derivar de corpos cetónicos que provêm da oxidação das gorduras.