Agostinho de Hipona (354-430), mais conhecido por Santo Agostinho, foi um teólogo que nasceu no Norte de África. A sua educação foi essencialmente latina, e mais tarde enriquecida pelo seu cristianismo controverso que pregava a verdade da Bíblia. Os seus escritos denotam um período histórico imensamente interessante: o encontro entre o cristianismo e a filosofia, duas atitudes possíveis relativamente à tarefa de pensar o homem e o mundo.
O sistema metafísico que aprofundou foi derivado da filosofia platónica – nomeadamente a partir do conhecimento de duas obras: o Fédon (sobre a imortalidade e a afinidade desta com as ideias) e o Timeu (dedicado à exposição da origem e forma do Universo) -, que defendia que um verdadeiro Deus seria ao mesmo tempo o autor de todas as coisas, iluminaria a verdade, e providenciaria a felicidade derradeira.
Agostinho tinha conhecimento da versão latina dos escritos de Plotino e do seu discípulo Porfírio de Silva. Estes platonistas pagãos foram a salvação de Agostinho perante o maniqueísmo dualista e o ceticismo ciceroniano, pelo que acabariam por contribuir decisivamente para a sua conversão ao cristianismo quando tinha cerca de 31 anos.
Segundo Agostinho, existem três naturezas, isto é, três tipos de substâncias: a substância corpórea, que é mutável no tempo e no espaço; a substância espiritual, mutável no tempo somente; e Deus, que é imutável. As almas não são substâncias corpóreas, uma vez que vêem e julgam similitudes que não são corpóreas; consequentemente, Deus é também incorpóreo. Entre os seres incorpóreos situam-se os anjos e os demónios, mas principalmente um Deus, uma vez que o Ser Supremo é divino.
Todas as coisas derivam de Deus, uma vez que todas as coisas boas derivam de Deus e tudo é bom; os milagres diferem dos eventos naturais porque não são ordinários. O curso perfeitamente ordinário da natureza é o desabrochar planeado de razões causais e seminais, que datam do tempo em que Deus completou a sua obra. Em certo ponto, a concepção agostiniana de Deus parece combinar dois papéis, o da causa da verdade e causa de conhecimento, que Platão atribuiu ao bem: o último papel torna Deus no verdadeiro Mestre, iluminador de verdades com tanto esplendor como o sol que ilumina as coisas visíveis; o primeiro princípio torna-lo na Verdade.
Na esteira de Marco Terêncio Varrão (116-27 AEC), Agostinho propôs que a questão da verdade antropológica do homem passa pela consideração da possibilidade dupla de ser corpo e alma, ou somente um destes aspetos. Para Agostinho o homem só pode ser constituído pelas duas partes, mas viu-se forçado a concluir que o modo como um espírito adere ao corpo é um mistério.
Agostinho investigou ainda a natureza do tempo para responder ao desafio pagão contra o criacionismo. Os seus argumentos passam pela defesa de que Deus fez o tempo também; seguiu Plotino e antecipou Boécio ao relatar sobre a eternidade; combateu o puzzle aristotélico sobre a existência de tempos, uma vez que os tempos são todos passados, futuros ou sem duração. Quanto ao respeito da existência de tempos, Agostinho especula que medimos tempos ao memorizarmos a sua duração, pelo que os tempos são afetações da mente.
Os seus vários escritos sobre o livro arbítrio forneceram materiais para ambos os partidos nos debates presentes no tempo da Reforma, por exemplo, entre Erasmus e Lutero, o que compôs o cenário para os tratamentos modernos sobre o tópico. Contudo, Agostinho falhou perante as pressões contrárias à sua doutrina, argumentando que a graça preventiva de Deus não pode ser resistida, mas recusando repudiar o seu argumento inicial de que alguns males são pecados cometidos livremente.
References:
Kenny, Anthony (2005), Medieval Philosophy, Oxford, Clarendon Press.