John Dewey (1859-1952) foi um filósofo americano conhecido pela sua defesa da corrente filosófica conhecida como pragmatismo.
Na obra Experience and Nature (1925), Dewey aplica o método empírico a uma noção fertilíssima de experiência, de modo a conceber uma ontologia que sublinhe os inúmeros dualismos que percorrem a literatura filosófica. Dewey dispara objeções contra as dicotomias emergentes na filosofia clássica e moderna, como a dicotomia entre Ser e Devir, Mente e Matéria, Teoria e Prática, Factos e Valores, não só porque tais dualismos originam querenças estéreis, mas também porque refletem distinções de classes, isto é, oposições entre os que desfrutam de investigações no gabinete, e os que engajam com o trabalho físico. A propósito deste fosso, Dewey refere a odiosa ironia de uma filosofia que exalta a vida da razão, ao mesmo tempo que presta pouca ou nenhuma atenção às condições que tornam a vida possível. Por exemplo, a experiência: a construção de um relógio, ser balançado pelo vento, escutar Mozart, compreender como funciona um relógio. Somente na reflexão é que distinguimos a experiência e o que é experienciado.
Mas a metafísica, que lida com os traços mais gerais da existência, pensa a existência como estável e precária, ou a existência como individual. Para Dewey, só há uma esfera do Ser, e cada ser existente é um evento. Os eventos possuem qualidades imediatas que são desconhecidas, apesar de estimularem a investigação que conduz ao conhecimento e produção deliberada de valores. Os eventos apresentam inícios e finalidades, têm e são causa e efeito. Os gregos erraram ao pensar a esfera do devir como inferior à esfera do Ser (a esfera da finalidade), e por isso é um erro os modernos considerarem as causas iniciais da história como mais reais do que os efeitos tardios nessa precisa história. Assim, a vida, uma rede que interações sustentáveis entre uma coisa e o meio, apareceu depois da matéria inanimada, e os atos intencionais ocorreram ainda mais tarde: mas ontologicamente, estes progressos situam-se no mesmo nível. Apesar de Dewey considerar a “vida mental” como o fim mais conspícuo da natureza, e um dos mais preciosos bens do ser humano, assume precauções quanto à identificação de um fim com o bem, porque existe a possibilidade do mal e da indiferença.
A consciência pressupõe a comunicação: o choro de um bebé torna-se num sinal quando se converte num sinal que requer a resposta adequada de um adulto; mas ainda não estamos perante a comunicação linguística. A linguagem só está presente quando falante e ouvinte assumem a posição inversa por turnos. Assim, o discurso com os outros precede o discurso individual (pensamento), e os significados não são existências psíquicas, mas propriedades primárias do comportamento cooperativo.
No uso dado por Dewey, os significados são múltiplos: as coisas têm significado ou mesmo “essências” quanto constituem consequências importantes para nós; as coisas têm significado quando fazem sentido. A existência do erro demonstra que os significados são objetivos, que indicam interações possíveis, pelo que os erros são possíveis. Os significados também representam valores: a literatura, um ritual, etc., providenciam os significados à luz dos quais a vida é julgada. Por conseguinte, os valores partilham um laço comum: são deliberadamente construídos como meios para os nossos fins, incluindo o melhor fim, o supremo bem e a partilha de experiência. Consideradas estas etapas, a comunicação não só é instrumental como também é final.
Sem dúvida que um dos maiores contributos de Dewey para o pensamento moderno se prende com a noção de experiência consumatória: se algumas práticas não tivessem aparecido fortuitamente na história do ser humano, nunca teríamos inquirido sobre as condições dessas práticas, nem tentaríamos assegurar a sua preservação e reprodução social. Os valores são o resultado de uma avaliação crítica e produção deliberada.
References:
Murphy, J.P (1990), Pragmatism: From Peirce to Davidson, Boulder, Co, Westview Press.