Henri Bergson

Henri Bergson

Por volta do início do século XX, houve um filósofo francês que formulou uma nova e impressionante concepção para a metafísica: o seu nome era Henri Bergson (1859-1941), e influenciou filósofos ilustres como Merleau-Ponty, Jean Paul Sartre, Emmanuel Lévinas e Gilles Deleuze. Apesar de ter adquirido uma reputação internacional, que chegou a ter contornos de culto ainda durante a sua vida, depois da Segunda Guerra Mundial a sua influência diminuiu acentuadamente. O corpus filosófico de Bergson é extenso, mas entre as obras com maior impacto na história da filosofia, encontramos Essai sur les données immédiates de la conscience (1889), Matière et Memóire (1896), Le Rire (1900), L’Évolution créatrice (1907), L’Énergie Spirituelle e Les Deux sources de la morale et de la religion (1932).

Tal renovação do cenário metafísico reuniu um vasto grupo de interessados não só pela novidade do conteúdo, como a oposição à prevalecente visão clássica de que a função da metafísica consistia numa investigação cujo termo seria a investigação do universo na sua totalidade. Esta investigação era considerada como puramente intelectual, e a ambição de tal demanda era sistematizar os resultados num grupo fixo e básico de verdades sobre a realidade.

Bergson rejeitou tal visão perversa da metafísica, porque é assumido que o intelecto humano tem a capacidade de descobrir a verdade, sendo que o ser humano detém principalmente, uma riquíssima aptidão – que foi evoluindo no decorrer do tempo -, para promover a ação prática do ser humano no mundo. O intelecto é entendido por Bergson como lidando em termos matemáticos com as entidades espaciais com que se depara, e estas entidades, para uma apreensão matemática verdadeira, devem ser consideradas como estáticas e imutáveis.

Mas será que o mundo se pode resumir, na sua verdade, a um conjunto de fórmulas que reduz desse modo a riqueza da experiência humana? Não será o mundo, muito pelo contrário, mais do que a experiência imediata consegue apreender? Se optarmos por responder sim a esta última interrogação, então passamos a compreender o mundo como fluído, isto é, uma dinâmica de coisas e eventos no tempo. Este tempo não pode ser equiparado ao tempo matemático que é o alvo das “ciências duras”; este tempo é denominado por Bergson como duração ou tempo real: o tempo científico é uma ficção, ainda que heuristicamente útil. Como tal, o tempo metafísico só é obtido ou “compreendido” ser o sujeito recorrer à intuição, introspeção ou experiência imediata, e não utilizando o intelecto humano na conjugação de conceitos abstratos.

Deste contraste deduz-se que a imagética científica do universo é caracterizada pelo mecanicismo e determinismo, metáforas concebidas pelo imaginário na procura da Verdade. Tal pressuposto culmina numa concepção errônea da noção de liberdade e criatividade. Estes fenómenos estão intimamente relacionados com a declaração de que a evolução humana resulta de um impulso vital (elã vital) ou de uma corrente de consciência que penetrou a matéria, resultando numa multiplicidade de potencialidades interligadas que constituíram o processo evolucionário: a multiplicidade corresponde aos dados imediatos da consciência, e é qualitativa, consistindo na temporalidade heterogênea, na qual várias consciências se organizam num todo, permeando-se mutuamente, e gradualmente adquirindo um conteúdo fértil.

Esta doutrina metafísica, que tenta combinar de modo inovador a heterogeneidade com a continuidade, foi apresenta de modo persuasivo nos escritos de Bergson, notavelmente ilustrada com poderosas metáforas e analogias. Não obstante, leitores contemporâneos de Bergson revelaram-se perplexos com a escassez de argumentos lógicos e razões que suportem tais doutrinas avançadas.

 

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References:

Deleuze, G. (1991), Bergsonism, New York, Zone Books.

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