O materialismo dialético nasce da concepção materialista da realidade, e através deste método de análise da dialética, é possível perspetivar com grande abrangência os mais variados fenómenos e descobrir quais as leis objetivas gerais que determinam a sua evolução. Por outras palavras, a proposta marxista para o materialismo é o da tese de que a realidade material determina o pensamento, as ideias e a vida, e que a compreensão deste fenómeno é indispensável para a compreensão das contradições sociais.
No ensaio de Joseph Dietzgen intitulado “Excursões de um Socialista ao Domínio da Epistemologia”, que data de 1887, encontra-se pela primeira vez o termo “materialismo dialético”. Mas este termo só conheceria a fama dentro do Marxismo posteriormente à publicação de um ensaio de George Plekhanov de 1891, onde este comemora o sexagésimo aniversário da morte de Friedrich Hegel e celebra o esforço do filósofo em tentar estabelecer uma visão monista da história. Durante a Segunda Internacional (1889-1917) o materialismo dialético tornou-se na filosofia dominante do Marxismo, e foi a filosofia oficial dos partidos comunistas da USRR durante a ditadura de Estaline (1929-1953).
Como doutrina oficial do comunismo soviético, no materialismo dialético unificou-se uma noção simplificada do método dialético de Hegel – método este que apresentava a mudança como o resultado de uma luta interna entre opostos, no qual a tese abra o caminho à antítese, sendo tese e antítese procedidos pela síntese dos opostos originais –, com o materialismo de Marx e Engels, formalizando esta junção uma ciência coerente com alegada aplicabilidade a todos os fenómenos políticos, sociais, históricos, biológicos e materiais. Os seus partidários reclamavam que esta fusão seria o culminar do “materialismo histórico” – um termo que Engels usou para designar a filosofia formalizada da história, baseada na concepção materialista da história de Marx. De acordo com os materialistas dialéticos, toda a mudança resulta da dialética tese-antítese-síntese, inerente a todo o fenómeno.
Em Marx, o materialismo é limitado ao trabalho e às condições materiais de produção. Consoante as relações sociais de produção são desenvolvidas, acabam por se tornar, em certos estágios, num entrave para a força material de produção, sendo criadas as condições para a revolução. Analisando tais eventos, Marx notou que há que distinguir entre as condições materiais de produção e as formas ideológicas à luz das quais as pessoas se apercebem das contradições entre as classes. Mas nesta análise e nos restantes escritos de Marx, não há nenhuma referência concreta aos conceitos de materialismo dialético e histórico: pelo contrário, Marx resistiu à tentativa de tornar a sua concepção materialista da história numa teoria substantiva da história ou numa filosofia totalizante, apesar de ter concordado tacitamente com as ideias de Engels quanto à extensão da dialética. Foi Engels precisamente, que desde 1875 até à sua morte adornou com maior coerência os seus tratados e os de Marx, desenvolvendo uma filosofia que incorporava a dialética hegeliana combinada com o materialismo do século XVIII. Este foi um esforço que acabaria por popularizar a ideia do “socialismo científico”, teoria esta que unificava no seu corpo o socialismo histórico, a filosofia idealista e o materialismo mecanicista, e que seria aperfeiçoada com a creditação política e intelectual de Plekhanov e Lenine, e oficializada em 1938 por Estaline como a única filosofia correta do Marxismo-Leninismo.
Com Karl Korch e Georg Lukács inicia-se a crítica do materialismo dialético. Ambos rejeitaram a redução da história como proposta no materialismo dialético, enfatizando a importância da consciência na história e a necessidade de os marxistas ocidentais concentrarem-se nas questões do método dialético, epistemológicas, e numa renovada compreensão da crítica de Marx a Hegel.
References:
Wetter, G. (1958) Dialectical Materialism: A Historical and Systematic Survey of Philosophy in the Soviet Union. Trans. P. Heath. Routledge & Kegan Paul, London.