Levantado do Chão é uma obra de José Saramago, onde o autor fala sobre o Alentejo, os alentejanos e a sua luta pela sobrevivência contra a exploração, o desemprego e a fome, iniciando-se a narrativa em 1900 e terminando em 1975. A obra atravessa períodos distintos, desde a época da monarquia, no início do século XX, o seu fim, a implantação da república, a ditadura e a libertação da mesma.
Levantado do Chão acompanha três gerações de uma família, os Mau-Tempo (onde o apelido da família, só por si, é simbolismo para o seu fado), começando por apresentar-nos Domingos Mau-Tempo e, posteriormente, introduzindo o seu filho João e os seus netos António e Gracinda, casada com António Espada. As três gerações que compõem a trama da obra reflectem três realidades diferentes: a primeira geração é oprimida pela religião, pela opressão do governo e pela exploração dos latifundiários. Não há perspectiva de mudança e acatam a realidade como o destino a que têm de se submeter. É a geração de Domingos Mau-Tempo. A segunda geração, representada por João Mau-Tempo, rompe com este silêncio e ganha coragem para questionar os donos das terras, o governo e a Igreja. É a geração que toma consciência da importância da luta. A terceira geração é a geração que passa a fazer greves como forma de luta pela mudança. É também a geração que mais sofre, com a prisão de vários dos trabalhadores. O porta-voz desta geração é Manuel Espada, que se casa com a filha de João Mau-Tempo.
O autor cruza as vidas das personagens com factos históricos, como a luta dos trabalhadores alentejanos pelo direito à jornada de oito horas, para criar um retrato cru e bastante verídico do que era a realidade do Alentejo do interior no século XX. O narrador de Levantado do Chão é omnisciente e crítico. Não se limita a descrever a acção, como também tece críticas, principalmente fazendo uso da ironia.
Em Levantado do Chão, Saramago relata uma relação do trabalhador com o campo que é esgotante e causa amargura e sofrimento, pois a execução das tarefas apenas fazem enriquecer os seus donos. É João Mau-Tempo, filho de Domingos Mau-Tempo, que ganha uma forte consciência de que as terras que cultiva enriquecem terceiros, consciência esta que o fará resistir à pressão dos latifundiários para que a colheita seja feita com um pagamento miserável. Ao receber a resposta do feitor, que lhe diz que não serão pagos mais do que vinte e três escudos pela jorna, João lança um ultimato: Ficará a seara ao pé, que nós não vamos por menos. (pág. 141). É neste ponto que começa o processo de mobilização dos trabalhadores rurais para uma reivindicação de melhores condições de pagamento e trabalho.