Clarabóia é o primeiro livro póstumo de José Saramago. A obra relata as histórias dos moradores de um prédio de Lisboa: um sapateiro, a sua mulher e o jovem a quem arrenda um quarto; um caixeiro viajante, a mulher espanhola e o filho; um funcionário de uma tipografia e a sua esposa; uma mulher que é sustentada pelo amante; um empregado de escritório, a mulher e a filha; e duas irmãs e as duas filhas de uma delas. A história desenvolve-se na década de 50, num Portugal assombrado pelo regime Salazarista. Através das personagens, Saramago traça uma reflexão sobre a conduta humana e os efeitos da sociedade dos comportamentos dos indivíduos.
A narrativa de Clarabóia é simples e envolvente, criando uma relação entre o leitor e os dramas pessoais de cada morador do prédio. Ainda que a narrativa de Clarabóia ainda não possua as características marcantes de Saramago – a escrita aproximada da oralidade e o uso particular da pontuação- é bem claro o seu olhar crítico perante a sociedade, marca de toda a obra do autor. Entrelaçando as vidas das diferentes personagens e dando a cada uma o tempo e o espaço necessários para expor os seus dramas, Saramago lança-se numa acutilante narrativa sobre as relações humanas.
Clarabóia foi o segundo livro escrito por José Saramago e, após a publicação de Terra do Pecado, Saramago enviou o manuscrito a uma editora, que nunca lhe enviou resposta. Já na década de 80, quando Saramago já era plenamente reconhecido pelo seu talento enquanto escritor, a editora entra em contacto com o autor no sentido de publicar Clarabóia. Por despeito ou falta de interesse, Saramago não quis que Clarabóia fosse publicado, tendo sido, após a sua morte, a família do autor a tratar da publicação da obra.
Clarabóia foi adaptado ao teatro em 2015, pela companhia A Barraca, pelo jornalista João Paulo Guerra, com encenação de Maria do Céu Guerra.