Saudosismo

O Saudosismo é uma corrente literária do século XX que tem como fonte de inspiração o traço definidor da alma portuguesa, a Saudade.

O despontar do saudosismo

O saudosismo é uma corrente literária que surge nos inícios do século XX a partir da iniciativa do grupo da Renascença Portuguesa (1911-1932), à qual pertenciam Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Álvaro Pinto e Leonardo Coimbra. Destaca-se Teixeira de Pascoaes como teorizador do saudosismo e autor do seu primeiro manifesto, O Espírito Lusitano e o Saudosismo, que eleva esta corrente a um pensamento capaz de apresentar soluções para os problemas do país. O grupo da Renascença Portuguesa tem como objetivo final a regeneração (cultural) de Portugal através do resgate e consolidação da autenticidade e da essência do que é ser português. A revista Águia, criada em dezembro de 1910, era o seu órgão de expressão cultural.

Para uma contextualização desta corrente literária (essencialmente poética), importa explicar que a 1ª República, ao fracassar a tentativa de harmonização entre divergências e conflitos políticos, espoleta sentimentos de desencanto e insatisfação. A prática cultural e, neste caso em particular, literária, não é alheia a esta desilusão generalizada: num momento de desencanto em termos sociológicos e de inquietação em termos intelectuais, irrompe o saudosismo no seu desejo de realçar as virtudes e as forças da alma portuguesa.

A alma portuguesa como fonte de inspiração

O pensamento saudosista nega as influências dos grandes centros de difusão europeia, optando por uma estética e ideologia totalmente portuguesas – segundo Teixeira de Pascoaes, o saudosismo é a única corrente literária absolutamente lusa. Por conseguinte, temas e valores tipicamente portugueses são valorizados pelos saudosistas, com destaque para a Saudade: esta será, na opinião de Pascoaes, o traço identificador do povo luso. Nas palavras do poeta: o seu “perfil eterno”.

Há, no entanto, que atentar no facto de o cariz nacionalista do saudosismo ser “enganador”: Teixeira de Pascoaes, em A Arte de Ser Português, explica que a Humanidade está acima da Pátria e que o Homem é superior quando vive em função da primeira. A abertura da cultura portuguesa ao universal é aceite e, inclusivamente, desejada por Pascoaes – o que o poeta recusa é a imitação dos modelos estrangeiros. O objetivo seria reforçar o modelo português no plano internacional, em situação de igualdade quando comparado com os modelos estrangeiros considerados “fortes”. Os saudosistas propunham a consolidação do espaço e das singularidades da arte lusa.

A Saudade do saudosismo

O discurso saudosista divide-se em dois focos fundamentais: em primeiro lugar, procura no passado a autenticidade da alma portuguesa, numa tentativa de revitalizar a mentalidade cultural da época; em segundo lugar, é este passadismo que servirá para a regeneração e consequente glorificação da nação. A Saudade seria uma via para o conhecimento – só a revelação da sua profundidade e intensidade conduziria a um momento de grandeza da nação lusitana.

A Saudade deve ser considerada, à luz do saudosismo, como valor espiritual, como filosofia e não apenas através da sua dimensão sentimental. Para Teixeira de Pascoaes, a Saudade seria “o sangue espiritual da raça”, um “sentimento-ideia”, uma “emoção-refletida”. Esta elevação da Saudade também a um plano místico permitiria a união do Homem com o mundo, do espiritual com o material, naquela que é a sua impressão panteísta. A poesia saudosista apresenta-se como um sistema acima de todos os sistemas, envolvendo-os: diz respeito à expressão poética da alma portuguesa e ao que se pode chamar a filosofia da raça, não só lusitana como também europeia.

Renovação e glória, propõe o saudosismo

Existe um paralelismo notório entre saudosismo e sebastianismo: à semelhança da mitificação de D. Sebastião, os poetas saudosistas crêem num salvador político para a superação da crise instalada em Portugal após a implantação da república.

O desejo profético de renovação e glorificação não se limita à dimensão política e social – também na dimensão cultural se aguardava a chegada de um poeta que suplantasse Luís de Camões, um “Supra-Camões”: um poeta supremo cujo aparecimento estaria para breve. A este propósito, Fernando Pessoa afirma, no texto “A Nova Poesia Portuguesa sociologicamente considerada” publicado, em 1912, na revista A Águia, que esta corrente literária que aflorava, nada mais era do que o início de uma marcante movimento literário. O Saudosismo proclama uma nova “era lusíada”. Um dos poetas que lhe estão associados é Fernando Pessoa, figura proeminente do modernismo português.

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References:

VILA MAIOR, Dionísio (1994), Introdução ao Modernismo, Coimbra, Livraria Almedina.

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