Essencialismo

A história humana está repleta de visões estatizantes do ser: o que no jargão moderno se define como essencialismo. Historicamente, as teorias filosóficas mais predominantes no ocidente foram produto da doutrina das formas platónicas, e da doutrina aristotélica relativa às categorias, segundo a qual as coisas pertencem a uma mesma categoria por terem propriedades comuns. Com John Locke a essência foi dividida em duas: a essência nominal e a essência absoluta. Uma essência nominal incluí os atributos percebidos como necessários à essência, sem os quais ela deixaria de ser a mesma; uma essência absoluta refere-se a uma entidade real que possui propriedades internas, objetivas e intrínsecas, das quais a essência depende.

Mas os essencialismos não se resumem somente a disputas filosóficas, pois por consistir na supressão da temporalidade humana (pois atribui uma ontologia imutável à contingência que é própria do ser humano, negando-lhe a relevância enquanto agente), as suas manifestações são inumeráveis: desde os discursos de autenticidade cultural como os nacionalismos; até ao fundamentalismo hermenêutico que interpreta as escrituras sagradas literalmente, aplicando essa interpretação ao controlo da ordem social, como a Igreja na Idade Média; ou mesmo as políticas mais conservadoras que vetam o casamento homossexual por alegadamente ser contra a natureza humana, que argumentam ser imutável.

Deste modo, o fio condutor do essencialismo deriva sempre das diversas estratégias individuais ou colectivas empregues para produzir uma verdade totalizante. Por isso, possui paralelos semânticos com o discurso reificado, o objetivismo ou o literalismo, que consistem no reducionismo das particularidades socioculturais.

Como escreveu Emmanuel Levinas: “Não é o juízo último que importa, mas o juízo de todos os instantes no tempo em que se julgam os vivos.”

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References:

  • Barnard, Alan e Jonathan Spencer (2002), Encyclopedia of Social and Cultural Anthropology, London, Routledge.
  • Levinas, Emmanuel (2014 [1980]), Totalidade e Infinito, Edições 70, Lisboa.
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