Psique tem origem no vocábulo grego psychē e no verbo psýkhein, que inicialmente significava “sopro” ou “respiração”, sendo que os gregos antigos interpretavam este conceito de psychē como algo que definia o “eu mesmo” evoluindo, para os conceitos modernos e atuais do ego, a alma e a mente.
Mitologicamente, Psique era uma divindade que representava a alma. A sua história está, invariavelmente, ligada ao Deus Eros. Lúcio Apuleio, escritor latino, narra a sua história na obra Metamorphoseon Libri XI, popularmente conhecida como O Asno de Ouro.
Segundo Apuleio, Psique era uma princesa, a mais nova de três filhas, de um conhecido rei. Todas eram extremamente belas, mas a beleza de Psique era incomparável. Por esse motivo, consumida pela inveja, Afrodite ordena a seu filho Eros que lance as suas setas sobre Psique para que esta se apaixone pelo ser mais intragável de toda a terra.
Preocupado pelo facto de a sua filha mais nova não ter nenhum pretendente, e uma vez que as suas duas outras filhas já estavam casadas, o rei aconselha-se com o oráculo de Apolo. Este, persuadido por Eros, responde ao rei que a sua filha não está destinada a amar um ser mortal mas sim com uma entidade monstruosa e, por isso mesmo, deveria esperar o seu pretendente no cume de uma montanha.
Seguindo as instruções de Apolo, o rei e a rainha vestiram a sua filha mais nova com vestes de noiva e colocaram-na no alto de um rochedo. Abandonada e assustada, a jovem acaba por adormecer. Eros aproxima-se da princesa, para tentar executar o plano de sua mãe, mas acaba por se ferir com uma das suas setas, apaixonando-se perdidamente por Psique.
Incapaz de cumprir o plano de Afrodite, para evitar a sua fúria, Eros esconde Psique no seu grande palácio de mármore. Quando acorda, esta fica espantada com a grandiosidade do local e com a amabilidade que é tratada. Durante a noite, na escuridão dos seus aposentos, a princesa entrega-se ao seu pretendente sem saber quem se tratava. Eros afirma que será o melhor e mais meigo de todos os amantes, mas para isso Psique teria de lhe prometer que nunca iria ver o seu rosto.
O Amor de Eros e Psique
Psique tinha tudo o que desejava e, lentamente foi-se apaixonando profundamente pelo seu marido. Contudo, sentia intensas saudades de toda a sua família e pediu permissão para os visitar. Ao ter conhecimento da sua felicidade, as suas duas irmãs, consumidas pelos ciúmes, incitaram a jovem a ver o rosto do seu amado.
Induzida pelas suas irmãs, Psique entra nos aposentos de Eros e aproxima-se do seu rosto adormecido com uma lamparina, surpreendendo-se com tamanha beleza. Ao acordar, devido a uma gota de azeite quente da lamparina que caiu no seu ombro, Eros fica devastado com tamanha traição e expulsa a sua amada do palácio.
As missões de Afrodite
Completamente desesperada, Psique começou a vaguear pela terra. Resoluta a conquistar novamente Eros, dirige-se ao encontro de Afrodite que a humilha, tortura e lhe propõe quatro missões.
Psique supera, com grande resiliência, três das quatro provas. A primeira missão consistia em separar, numa só noite, diferentes tipos de grãos que estavam misturados em um grande monte. Tal dura tarefa foi superada, graças ao auxílio de pequenas formigas que trabalharam incansavelmente.
Na segunda prova, Afrodite exigiu que Psique recolhesse flocos de lã, banhados a ouro, pertencente a ovelhas carnívoras. Aproveitando a distracção das ovelhas, a jovem consegue retirar todos os flocos durante a noite.
As missões tornavam-se cada vez mais complexas e na terceira, Psique precisava de recolher as águas sagradas do rio infernal. Enchendo-se de compaixão pela jovem mortal, Zeus decide ajuda-la nesta árdua tarefa, enviando a sua águia que velozmente passou entre os dragões do rio e encheu o vaso com a água sagrada.
Furiosa e irritada com o sucesso da jovem princesa, Afrodite apresenta-lhe a derradeira e mais difícil de todas as provas: Ir ao encontro de Perséfone, no submundo liderado por Hades, Deus dos Infernos, e pedir um pouco de beleza e juventude eternas. Psique tinha de ser bem-sucedida na sua travessia até ao submundo e, para isso, precisava de resistir a todas as ilusões e tentações que esse mundo oferecia. Após pagar a travessia a Caronte, o barqueiro do submundo, e resistir até então a todas as tentações que se deparavam no seu caminho, Psique conseguiu o que pretendia – uma pequena caixa com o segredo da beleza e juventude eterna. Contudo, a jovem não foi forte o suficiente e, com o espírito aguçado pela curiosidade, não conseguiu resistir à tentação de não abrir a caixa, e mal o fez caiu num sono profundo e mortal.
Unidos para a eternidade
Eros ao ver que a sua amada passou por tantas privações para o reconquistar, foi ao seu encontro e despertou-a do sono da morte pedindo-lhe para concluir esta sua última tarefa e entregar a caixa a Afrodite.
Após a conclusão de todas as provas, Eros implorou a Zeus para que o unisse a Psique, mesmo ela sendo uma mortal. Zeus assim o fez, atribuindo imortalidade a Psique. Eros e Psique ficaram assim unidos para toda a eternidade.
Para além da versão de Lúcio Apuleio, o mito de Eros e Psique foi também narrado na peça Psique de Molière, na obra Os Amores de Psique e Cupido de La Fontaine e na História da Mitologia de Thomas Bulfinch.
References:
Braz, Ana Lúcia Nogueira; Origem e significado do amor na mitologia greco-romana in http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2005000100008
Apuleio, Lúcio; O Asno de Ouro in https://magiapdf.files.wordpress.com/2013/11/lucio-apuleio-o-asno-de-ouro.pdf