Estruturalismo

Conceito de Estruturalismo: Em antropologia mencionar estruturalismo é invocar a mente de Claude Lévi-Strauss, um dos mais brilhantes antropólogos que o…

Conceito de Estruturalismo

Em antropologia mencionar estruturalismo é invocar a mente de Claude Lévi-Strauss, um dos mais brilhantes antropólogos que o século XX teve o prazer de conhecer. O essencial do conteúdo metodológico e filosófico do estruturalismo de Lévi-Strauss é tributário à influência do linguista Saussurre. Saussurre deu os seguintes contornos à língua: esta é forma e não substância; a sua singularidade consiste em poder ser definida como um sistema de diferenças que subjaz a uma ordem imaculada, isto é, objetiva, onde a palavra deixa de ter um significado (ideia) para ser um significante (som), onde se desce da palavra ao fonema, que é som puro. Neste quadro, o mundo não é referência, e assim se alcançam os limites da linguagem. Inspirado por Saussurre, Roman Jakobson aprofundou o programa do primeiro, e no domínio dos fonemas opôs “a” e “i” como grave e agudo, aberto e fechado, anterior e posterior: eis como formulou leis binárias aplicando-as ao sistema linguístico.

Claude Lévi-Strauss julgou que a aplicabilidade do método estrutural excedia o campo restrito da linguística, pois a língua é apenas um dos elementos que compõem a Cultura de determinada sociedade. Consequentemente trabalhou o totemismo, o parentesco, a lógica do sensível e acima de tudo, os mitos, tendo em vista a decomposição destes nas unidades mais básicas, que por sua vez residiam no plano “híper-estrutural” da linguagem humana, o que é dizer que a estrutura das sociedades é muito mais um produto de ideias (“padrões universais do pensamento”), do que o resultado das condições materiais de existência, daí o estruturalismo de Lévi-Strauss ser considerado um “idealismo materialista”.

Estruturalismo aplicado à mitologia

«O mito está certamente relacionado com diversos factos dados da realidade, mas não é uma representação destes. A relação é dialética, e as instituições descritas nos mitos podem ser profundamente opostas às instituições verdadeiras. Esta relação insuficiente limita certamente o uso do mito como fonte documental. Mas outras possibilidades surgem, pois ao abandonarmos a procura da realidade etnográfica no mito, ganhamos, em determinadas ocasiões, meios de alcançarmos as categorias do inconsciente.»
(Lévi-Strauss 1976: 172-3)

O mito é essencialmente como a música: a sua “substância” não é linguística. Segundo os escritos de Lévi-Strauss, o mito só pode ser comparado com outro mito. Este fascínio por parte do autor é produto de um padrão esclarecido na obra Antropologia Estrutural: os mitos sugerem constatações contraditórias porque nenhuma regra lógica parece encadeá-los, e qualquer predicado é atribuível a determinado sujeito. Apesar desta idiossincrasia, os mitos de cada canto do mundo são incrivelmente semelhantes. Ao combinar as propriedades temporais da fala (tempo irreversível) e da língua (tempo reversível) com um mecanismo terceiro, uma mitologia apresenta o seu carácter absoluto, porque se refere num mesmo lance ao passado, presente e futuro. Por conseguinte, o significado do mito excede em profundidade os domínios comuns da língua: do fonema ao morfema ao semantema ao mitema, dá-se um maior grau de complexidade. E apesar das variações que um mito, como o de Édipo, possa demonstrar, todas pertencem ao mito e nenhuma é mais verdadeira do que outra, pois é a demanda da estrutura lógica (a lei inerente a todos os mitos) que Lévi-Strauss persegue.

Estruturalismo

Na equação, os dois termos a e b são dados em simultâneo com as duas funções x e y. Desses termos concebe-se uma relação de equivalência entre dois momentos, definidos por uma inversão dos termos e das relações, sob duas regras: 1ª que um dos termos seja substituído pelo seu contrário (a e a-1); 2ª que uma inversão correlativa se produza entre o valor da função e o valor do termo de dois elementos (acima: y e a)

Apesar das oposições estruturais de Lévi-Strauss se terem afigurado artificiais ou forçadas, por reduzirem o brilho do mito ao formalismo matemático, não há dúvida de que este antropólogo chamou sofisticadamente à atenção para a existência de determinados padrões universais da cultura.

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References:

  • Barnard, Alan e Jonathan Spencer (2002), Encyclopedia of Social and Cultural Anthropology, London, Routledge
  • Bernardi, Bernardo (2007), Introdução aos Estudos Etno-Antropológicos, Lisboa, Edições 70
  • Verde, Filipe (2007), “O código Lévi-Strauss ou o mundo como correlato objectivo”, Antropologia Portuguesa, 24/25, 21-35.
  • Lévi-Strauss, C. (1958), Anthropologie Structurale. Paris, Librairie Plon
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