Descolonização refere-se ao fenómeno político e social de retirada de administradores e colonos europeus da África e da Ásia e da concepção de independências formais aos novos países. Após a 1ª Guerra, algumas colónias, nomeadamente as alemãs, tenham sido desmanteladas e estabelecidas como mandatos de outras potências europeias. Alguns “domínios” britânicos de maioria branca, como a Austrália, o Canadá, a Nova Zelândia e a África do Sul tinham também já obtido independência do Reino Unido. Muitos países das Caraíbas e das Américas, além dos EUA, eram também soberanos. De forma inversa, muitos países permaneceram colónias de países não-europeus, como Timor-Lorosae, ocupada pela Indonésia até 2002, a Palestina, ocupada por Israel ou o Saara Ocidental, ocupado por Marrocos.
Para efeitos de precisão, o período histórico aqui considerado é o pós-2ª Guerra Mundial e a análise geográfica restringe-se aos continentes asiático e africano. Estas descolonizações foram classificadas por Dietmar Rothermund como “provavelmente o processo histórico mais importante do século XX”. De 1945 a 1974, os impérios coloniais desapareceram formalmente, dando lugar a instituições de cooperação, como a CPLP, a Commonwealth ou a Francofonia. As descolonizações foram um fenómeno maioritariamente violento, replicando o próprio processo de colonização, embora também tenham existido transições de poder pacíficas, não sem luta e resistência por parte dos movimentos nacionalistas anti-coloniais. Deveram-se, além da resistência dos povos ocupados, ao enfraquecimento político e militar das potências europeias no final da 2ª Guerra Mundial.
No século XIX, todo o continente africano – excepto a Etiópia, que havia resistido à invasão da Itália, e a Libéria, ocupada por indivíduos que haviam sido escravizados – havia sido ocupado por potências europeias. A Inglaterra e França detinham as maiores porções de territórios, mas Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e Bélgica também conquistaram terrenos no continente. Estas ocupações não se fizeram sem resistência nativa, mas foram, devido ao superior poderio militar, bem-sucedidas. No final da 1ª Guerra Mundial, a maioria dos países árabes, como a Siria ou a Palestina, foram também dividos, ao abrigo do acordo secreto de Sykes-Picot.
Os esforços de resistência anticolonial foram diversos, em todos os continentes. O mais famoso foi a campanha não-violenta de Gandhi, que começou em 1920 e terminou com Marcha do Sal em 1930. Em 1927 tinha-se igualmente realizado um congresso das “Nações Oprimidas” em Berlim, com participação de vários líderes nacionalistas africanos e asiáticos. Em 1945, tanto a Indonésia, sob a alçada de Sukarno, como o Vietname, liderado por Ho Chi Minh, proclamam a sua independência. No ano seguinte, a maioria dos países árabes também reconquista a soberania, assim como Ceilão, Myanmar e Malásia.
A grande conferência de resistência anti-colonial e de solidariedade afro-asiática realizou-se em Bandung na Indonésia, em 1955. No ano a seguir, emerge o Movimento dos Não-Alinhados, sob liderança do presidente egípcio Nasser, do primeiro-ministro indiano Nehru e do marechal jugoslavo Tito, que preconizava uma política de neutralidade perante as duas potências mundiais, EUA e URSS, e uma oposição activa ao racismo e colonialismo e imperialismo europeu, assim como promover uma maior cooperação cultural e económica entre as nações asiáticas e africanas. Conta, ainda hoje, com 120 países, embora tenha perdido o seu ímpeto inicial com o fim do colonialismo e da Guerra Fria.
O primeiro país africanos a reclamar a soberania no pós-II Guerra Mundial foi o Gana, comandado por Kwame Nkrumah, no ano de 1952. Em 1960, também no Gana, o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan pronuncia o seu famoso discurso sobre “os ventos da mudança” em África, mas a descolonização de muitos países ainda estava por completar. Os países colonizados por Portugal – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique – só conseguiram a independência 14 anos depois, com a revolução militar do 25 de abril, provocada pela resistência dos líderes nacionalistas desses países. Outros países africanos, como a África do Sul ou o Zimbabué, mesmo sem a presença dos administradores britânicos, continuaram a sofrer uma colonização interna de brancos sobre negros até, respectivamente, 1994 e 1980.
A descolonização foi um processo histórico extremamente completo e com muitas variáveis, mas que mudou a face do mundo e ajudou a estabelecer umas relações internações mais horizontais, dignas e igualitárias. Contudo, muitos autores argumentam que, embora a maioria dos países tenham conquistado a independência, ainda resta libertar-se economicamente de formas de neocolonialismo e sobretudo realizar a “descolonização da mente”, ou seja, dos conceitos e visões do mundo do (ex-)colonizador.