Béla Tarr nasceu em Pécs, no sul da Hungria, a 21 de Julho de 1955. O seu primeiro contacto com uma câmara de filmar foi aos catorze anos, por via de prenda de aniversário dada pelo seu pai.
Durante a sua juventude, por volta dos seus dezasseis anos, Béla Tarr manteve contacto com alguns grupos de operários ciganos, os quais viriam a constituir objectos de estudo para as suas primeiras obras cinematográficas. A estes humildes trabalhadores, pedia regularmente que falassem para a câmara, e verbalizassem, da maneira que pudessem, as circunstâncias em que viviam, e as suas lamentações para com a vida.
Com outros dois seus colegas, seria também nesta fase da sua vida que Béla Tarr formaria um grupo de cinema denominado “Grupo Dziga Vertov”. Uma vez com o grupo formado, Tarr acabaria mesmo por realizar um documentário, embora amador, sobre a vida destas pessoas, constituindo este como o seu primeiro trabalho oficial, enquanto realizador.
Primeiras obras realizadas de Béla Tarr
O seu primeiro contacto com o mundo profissional do cinema viria quatro anos depois, quando István Dárday e Györgyi Szalai (dois cineastas célebres húngaros da altura), convidaram Béla Tarr como seu assistente para realização de, à altura, um grande projecto do cinema húngaro intitulado “Film-regény”.
Em 1977, Tarr viria a realizar o seu primeiro projecto mais sério e com mais projecção: “Családi tűzfészek”. Neste, Béla Tarr contaria com a colaboração de Irén Szajki, a qual viria a ser uma colaboração frequente em futuros filmes do realizador húngaro.
Nesta altura, e ao ganhar mais visibilidade, Béla Tarr sentiria alguma dificuldade em conseguir com que os seus trabalhos ganhassem distribuição e reputação, em grande parte por não dispor de qualquer formação na área. Não só era extremamente novo para um cineasta, como era um completo estranho à comunidade profissional, a qual era tremendamente cuidadosa ao apoiar os seus artistas com base no seu currículo académico. Com base nesta situação, Tarr acabaria por integrar uma escola profissional de cinema, corria o ano de 1978.
Após a sua experiência académica, e agora com mais aceitação e apoio comunitário, Béla Tarr realizaria o seu próximo filme, “Szabadgyalog”, em 1981. Foi o seu primeiro trabalho com total apoio financeiro por parte de um estúdio de cinema, sendo-lhe concedida total liberdade artística para a sua realização.
O seu seguinte projecto viria com “Panelkapcsolat”, volvido um ano. O mesmo receberia uma distribuição limitada para televisão. Nesta mesma fase, Béla Tarr viria a concluir os seus estudos junto da escola de cinema, já com algumas produções concluídas, e com dois prémios internacionais no bolso (no qual se incluiu um prémio no Festival de Locarno). Tal constituía um início bastante invulgar para uma carreira profissional de um cineasta de tão tenra idade.
Em 1984, Tarr realizaria o filme “Őszi Almanach”, o qual seria muito bem recebido pelos críticos de cinema internacionais. Este facto contrastava com a recepção no seu próprio país, onde Béla Tarr se via cada vez mais marginalizado por via de ser constatado como um realizador com ideias demasiado contrastantes com o típico cenário cinematográfico húngaro. No entanto, seria este o filme que viria a instituir o começo da sua reputação internacional.
Este desfasamento entre a sua reputação interna e internacional teria o seu apogeu com a apresentação do seu próximo projecto, “Kárhozat” (“Danação”), de 1988. As reações não podiam ser mais polarizadas. Na Hungria, a obra seria recebida com sério desdém por parte da comunidade de críticos cinematográficos, ao passo que, a título internacional, a mesma valer-lhe-ia vénias e prémios em festivais como Cannes e Bergamo, bem como uma nomeação para os Prémios do Cinema Europeu.
Maior projecção internacional
Em 1994, Béla Tarr apresentaria aquele que é considerado o seu magnus opus, “Sátántangó” (“O Tango de Satanás”). Com uma duração de sete horas e meia, o filme tornou-se uma espécie de jóia rar junto da comunidade crítica de cinema internacional. Efectivamente, o filme daria à luz uma espécie de culto à volta do mesmo. Mais uma vez, a obra de Tarr seria recebida com alguma animosidade por parte do público húngaro, muito devido à sua duração, para além do tipo de conteúdo bastante provocativo e controverso.
Na passagem do milénio, em 2000, Tarr apresentaria outro projecto, transversalmente considerado como outra obra-prima “Werckmeister Harmóniák” (“As Harmonias de Werckmeister”). Seria nesta mesma altura que Béla Tarr inauguraria o seu próprio estúdio de produções, ao qual daria o nome de T. T. Filmműhely, juntamente com o produtor Gábor Téni.
Nesta fase, o realizador húngaro já não era considerado como alguém a ser marginalizado por parte comunidade cinéfila do país. Com o reconhecimento e reputação internacional, Béla Tarr tornou-se uma figura de respeito a nível de representação do seu país, culminando com a atribuição da mais alta honra que um artista pode receber na Hungria em 2003. Consequentemente, e já em 2010, Béla Tarr seria nomeado como presidente da Associação de Cineastas da Hungria.
Antes, em 2007, Béla Tarr realizaria “A londoni férfi” (“O Homem de Londres”), o qual seria uma decepção, tendo em conta as altas expectativas que rodeavam o projecto, quanto mais porque o cineasta já não apresentava um projecto há quase sete anos.
Por via deste facto, e com a apresentação de “A torinói ló” (“O Cavalo de Turim”), em 2011, Béla Tarr viria mesmo anunciar que este seria o seu último filme, e que abandonaria a sétima arte de vez. E assim foi. Desde então, Béla Tarr encontra-se longe das luzes e das câmaras, e é hoje um dos mais respeitados e aplaudidos realizadores da sétima arte europeia.