Apresentação do Homo neanderthalensis, Homem de Neandertal
O Homo neanderthalensis (ou Homem de Neandertal) é uma espécie extinta do género Homo. Este homem arcaico sempre despertou o interesse da comunidade científica, por ser a espécie anatomicamente mais próxima do Homem moderno, e desde sempre se procurou descobrir a relação entre estas duas espécies.
Foi William King, em 1863 quem atribuiu a designação científica de Homo neanderthalensis devido a uma descoberta de fósseis na gruta de Feldhofer, no vale de Neander na Alemanha, que apesar de não ter sido a primeira descoberta desta espécie, foi aquela que lhe deu o tradicional nome de Neanderthal (que significa vale de Neander).
As características físicas destacam-se particularmente no esqueleto craniano. Os Neanderthais têm os parietais arredondados e projetados lateralmente; têm uma projeção posterior do osso occipital; o frontal é projetado para trás fazendo com que tenha um prognatismo facial acentuado. Têm ainda a face alongada, mas a testa é curta; as arcadas supraciliares são preponderantes, bem como a glabela; as arcadas zigomáticas são muito robustas mas as apófises mastoides são mais reduzidas. Estas características não são únicas dos Neaderthais mas a combinação entre elas definem o Neanderthal como um grupo distinto dentro do género Homo.
Relativamente à zona facial, sabemos que têm o palato amplo, não apresentam fossa canina, e a abertura nasal é muito mais ampla. Entre os anos 50 e 60 acreditava-se que a morfologia facial dos Neandertais fosse maioritariamente uma adaptação aos climas frios. Pois, baseavam-se sobretudo no facto de terem uma região nasal muito ampla (pensava-se que teria a função de radiador para aquecer o ar, prevenindo que causasse efeitos no cérebro), contudo estudos mais recentes sugerem que esta característica apenas é resultado de eventos estocásticos, ou seja aleatórios como é o caso de deriva genética. As suas mandíbulas são muito mais robustas (sendo capazes de amplificar a força da preensão nos dentes); não possuem queixo e têm um grande espaço retromolar (espaço atrás dos últimos molares).
Quanto ao esqueleto pós-craniano, sabe-se que possuíam membros curtos e robustos (rádio e ulna comparativamente mais curtos que o úmero e tíbia e perónio comparativamente mais curtos que o fémur), a pélvis é bastante larga e eram mais corpulentos que o H.sapiens.
Os Neanderthais ocuparam uma extensão que vai desde a Europa (excepto a Europa do norte), Ásia Ocidental, Sul da Sibéria e Próximo Oriente.
O Homo neanderthalensis surgir à 400.000 com o Homo heidelbergensis como seu ancestral que já se encontrava na Europa e extinguiu-se entre 30.000 ou 25.000 anos atrás; o Homo sapiens surgiu à cerca de 200.000 anos em África, mas só à cerca de 50.000 ou 40.000 anos atrás saiu de África em direcção à Europa e Ásia. Sabe-se que o H.neanderthalensis e o H.sapiens arcaico coabitaram durante cerca de 20,000 anos na Europa e na Ásia, até a total expansão dos H. sapiens, sendo que o primeiro contacto deu-se no Próximo Oriente há cerca de 50.000 anos atrás, aquando da saída de África deste último.
Estudos recentes têm revelado que estas duas espécies cruzaram-se entre si durante o período de co-habitação na Europa. Primeiro, os estudos focavam-se apenas nas semelhanças morfológicas do esqueleto. Mas o desenvolvimento de técnicas moleculares, veio aprofundar o nosso conhecimento sobre esta relação. Apesar da técnica de DNA antigo ainda ter algumas limitações, a primeira abordagem foi a extração de DNA mitocondrial. Os resultados revelaram que o Neandertal não contribuiu com mtDNA para o pool genético moderno, não excluindo completamente o seu cruzamento. Posteriormente, análises genéticas ao DNA nuclear, concluiu-se que os Europeus modernos partilham entre 1 a 4% de variabilidade genética com os Neandertais, que ocorreu fluxo genético no sentido dos Neandertais para o H. sapiens, e que os Neandertais estão mais próximos dos Euroasiáticos que dos Africanos. No entanto continuam a surgir criticas à fragilidade da sequência, por se tratar ainda de um rascunho.
Outras evidências de cruzamento podem ainda surgir em forma de híbridos, como é o caso do menino do Lapedo, descoberto pela equipa de João Zilhão em 1998, que, a provar-se ser um híbrido entre H. neanderthalensis e H. sapiens, vem reforçar a ideia de que houve de facto alguns cruzamentos entre estas duas espécies. Estes estudos recentes, vêm apoiar a hipótese do “Out of Africa”, contudo colaboram com as teorias menos conservadoras, pois consideram que houve cruzamentos antes da substituição. Saber se os fragmentos partilhados têm alguma relevância funcional vai ser o foco de interesse de investigações futuras.
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