Quem foi Azarias ou Abdénago
Abdénago, palavra babilónica que provavelmente significa ‘Servo de Nebo’, é o nome dado pelos babilónios a Azarias, uma personagem bíblica que surge no Livro de Daniel. Azarias era um judeu que terá sido levado para a Babilónia na primeira leva de judeus capturados pelo exército de Nabucodonosor, um pouco antes de 607 a.C, sendo-lhe então alterado o nome. A expressão Nago é, segundo alguns peritos, uma corruptela intencional do nome do deus babilónio Nebo – foi chamado Abdénago em vez de Abdénebo para não ser ofendido por levar o nome de um deus babilónio. O seu nome hebraico, Azarias, significa ‘Deus Ajuda’ e, pelo que se constata em que Daniel 2:17, o nome hebraico ter-se-à mantido no relacionamento entre os judeus.
Ao chegar à Babilónia, Azarias (Abdénago), juntamente com outros hebreus, foram sujeitos a um curso intensivo de três anos para que pudessem estar nalgum lugar da corte. O Livro de Daniel apresenta as razões pelas quais Azarias (Abdénago) (e mais três hebreus escolhidos) terá participado neste curso. (Daniel 1:3-5) – “Depois o rei deu ordem a Asfenez, chefe dos eunucos, para escolher, entre os israelitas da família real ou de outras famílias importantes, alguns jovens sem nenhum defeito físico, de boa aparência, instruídos em toda a espécie de sabedoria, práticos em conhecimento, gente de ciência, capazes de servir na corte do rei; deu também ordem para que lhe ensinassem a literatura e a língua dos caldeus. O próprio rei destinou-lhes uma ração diária de comida e de vinho da mesa real. Eles deveriam ser preparados durante três anos e depois passariam a servir o rei“. Por esta descrição é provável que na altura em que foi levado para a corte, Azarias (Abdénago) estivesse ainda na adolescência, e revelasse capacidades intelectuais elevadas.
Os quatro escolhidos (Ananias, Misael, Azarias e Daniel) ter-se-ão contudo recusado a comida e bebida do rei, provavelmente porque a alimentação dos babilónios incluíam muitos animais considerados impuros pelos hebreus, tais como a carne de porco, carnes de répteis, marisco, e comida não sangrada. Segundo o relato bíblico, Daniel tomou a iniciativa de solicitar ao oficial da corte uma alimentação diferente. Visto que este pedido foi rejeitado, foi solicitado um teste de dez dias, em que comeriam apenas verduras e hortaliças. No final do teste, eles tinham uma aparência mais viçosa do que outros que estavam sujeitos ao mesmo tratamento, o que os levou a concluir que esta aparência mais viçosa não provinha das suas capacidades, ou de uma alimentação melhor, mas de um favor do Deus dos hebreus. Visto que passaram no teste, foram capazes de manter tal alimentação durante o resto do período de tempo de duração do curso.
No final do curso, terão sido avaliados perante o próprio rei, e os quatro hebreus, passaram com distinção e demonstraram maior capacidade que outros que participavam no mesmo curso. De acordo com Daniel, o rei terá concluído que eles eram dez vezes melhores que todos os magos e adivinhos que viviam no seu reino.
Pouco tempo após o fim do seu curso surgiu uma questão que colocou em perigo a vida dos quatro hebreus. O rei Nabucodonosor decretou que todos os sacerdotes-magos e conjuradores seriam mortos, visto que não interpretaram um sonho que o rei teve. Novamente, Daniel tomou a dianteira em falar perante o Rei, e os quatro companheiros terão então conseguido explicar o sonho ao rei, o qual terá ficado satisfeito e a vida dos quatro foi poupada. Na sequência deste episódio, Daniel solicitou que seus três companheiros fossem nomeados administradores dos distritos jurisdicionais da Babilónia.
Algum tempo depois, os administradores, junto com os sátrapas, os perfeitos, os conselheiros, os governadores, os juízes, e os magistrados policiais foram reunidos na planície de Dura, a mando do rei para prestar adoração a uma enorme estátua de ouro. Novamente, os três hebreus rejeitaram adorar a um ídolo, facto pelo qual foram lançados numa fornalha ardente, sete vezes mais quente do que o habitual. Nesta fornalha, em que inclusivamente aqueles que os levaram até lá morreram, foram protegidos milagrosamente por um mensageiro angélico do Deus dos Hebreus, o que resultou em que nem as suas roupas se queimaram. Após a sua libertação, os três hebreus foram readmitidos ao favor real. Parece que é a essa experiência que séculos mais tarde o Apóstolo Paulo se referiu ao escrever aos cristãos hebreus, quando afirma que alguns pararam a força do fogo.