A Neisseria gonorrhoeae é uma bactéria Gram-negativa vulgarmente conhecida como gonococos. Esta bactéria é a causa da segunda doença sexualmente transmissível mais comum, a gonorreia.
A Neisseria gonorrhoeae possui genes bastante complexos no seu código genético que codificam os pili da sua estrutura celular. Tais genes desenvolvem recombinações múltiplas, estas combinações resultam na produção de pili com sequências de aminoácidos bastante variáveis. Esses antigénios mutantes nos pili protegem as bactérias dos anticorpos, assim como das vacinas destinadas a produzir anticorpos direcionados contras estas bactérias.
Os pili da Neisseria gonorrhoeae aderem às células hospedeiras, permitindo assim o aparecimento da doença. Estas estruturas geneticamente modificadas também impedem a fagocitose. A causa desse fenómeno reside nos pili que mantém a bactéria tão próxima da célula hospedeira que os macrófagos e os neutrófilos não conseguem atacá-la. A Neisseria gonorrhoeae possui, ainda, uma proteína, designada proteína II, localizada na membrana externa que também está envolvida no processo de aderência às células hospedeiras.
Um homem que mantém relações sexuais desprotegidas com uma mulher infetada pode adquirir uma infeção por Neisseria gonorrhoeae. Este microrganismo penetra nas membranas mucosas da uretra provocando a inflamação do local. Esta inflamação é designada por uretrite. Embora alguns homens possam permanecer assintomáticos, a larga maioria apresenta os sintomas de uma infeção deste microrganismo. Dor ao urinar e corrimento uretral purulento são alguns dos sintomas. Tantos os homens que permanecem assintomáticos quer os que apresentam os sintomas podem transmitir a bactéria a outra parceira sexual.
Da mesma forma que os homens, as mulheres também podem desenvolver uretrite gonocócica, com ardor e dor ao urinar e corrimento purulento da uretra. Nas mulheres, ao invés do que acontece com os homens, a uretrite tem mais probabilidade de permanecer assintomática, com um corrimento muito pequeno.
A Neisseria gonorrhoeae também infeta o epitélio colunar do cérvix, que se torna avermelhado e irritado, com exsudato purulento. Se os sintomas se desenvolvem, o paciente pode sentir desconforto no baixo-ventre, dor durante as relações sexuais e corrimento vaginal. Qualquer mulher, seja assintomática ou não, pode transmitir a doença.
Uma infeção gonocócica do cérvix pode progredir para uma doença inflamatória pélvica. A inflamação pélvica pode ser uma infeção do útero, das trompas de Falópio ou dos ovários. Os sintomas podem passar por estado febris, dor localizada, sangramento mensal anormal e sensibilidade aos movimentos do cérvix. A menstruação permite que a Neisseria gonorrhoeae se espalhe do cérvix para o trato genital superior. A presença de um dispositivo intrauterino aumenta o risco de uma infeção cervical gonocócica evoluir.
As complicações de apresentar um quadro clínico de doença inflamatória pélvica incluem:
– Esterilidade: o risco de esterilidade aumenta cada vez que ocorre uma infeção por Neisseria gonorrhoeae. A esterilidade é causada, na grande maioria dos casos, pelo processo de cicatrização das trompas de Falópio, que obstrui o lúmen e impede que o esperma atinja o óvulo;
– Gravidez ectópica: o risco de um desenvolvimento fetal fora do útero aumenta quando a mulher já apresentou este historial clínico. As trompas de Falópio são o local mais comum para a ocorrência de uma gravidez ectópica;
– Abcessos: os abcessos podem desenvolver-se nas trompas de Falópio ou nos ovários;
– Peritonite: as bactérias podem espalhar-se a partir das trompas de Falópio e dos ovários para infetar o líquido peritoneal;
– Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: esta é uma infeção provocada pela Neisseria gonorrhoeae que ataca a cápsula que envolve o fígado.
Em casos mais extremos as bactérias de Neisseria gonorrhoeae podem invadir a corrente sanguínea e provocar uma infeção generalizada do organismo. Os sintomas passam por febre, dor nas articulações e lesões nos pés.
A Neisseria gonorrhoeae pode ser transmitida de uma mulher grávida para o feto, resultando em oftalmia neonatal.
Terapias atuais passam pela administração de ceftriaxona, que também é usado no combate à sífilis.