No domínio da Biologia Evolutiva, um grupo ou taxon parafilético é aquele que não é representativo de todos os descendentes de determinado ancestral. Esse grupo inclui, assim, apenas um subgrupo dos descendentes do ancestral comum.
Os répteis, por exemplo, constituem um grupo parafilético, dado que, esse clado exclui as aves, e estas são um dos grupos descendentes do ancestral comum que deu origem aos répteis e às aves.
Aves descendentes de dinossauros
Os répteis estão distribuídos entre os grupos Sphenodontia (tuataras), Squamata (cobras e lagartos), Testudines (tartarugas), e Crocodilia (jacarés e crocodilos). Não se trata de um grupo monofilético pois exclui as aves, um grupo descendente do ancestral comum mais recente entre os dois grupos. Acredita-se que as aves descendem de um grupo de dinossauros não avianos que, possivelmente, já possuíam penas.
Assim, o grupo dos répteis não conta por si só, a história evolutiva completa desde o ancestral comum mais recente, já que, exclui as importantes inovações biológicas desenvolvidas durante a evolução do grupo das aves, como o aparecimento da endotermia (a capacidade de manter uma temperatura corporal constante). O mesmo ocorre com agrupamentos polifiléticos, como o dos animais endotérmicos (aves e mamíferos), por exemplo. Aves e mamíferos possuem duas histórias evolutivas independentes. Assim, a história evolutiva de um grupo parafilético não pode ser estudada da mesma forma que a de um grupo monofilético (considerado um verdadeiro grupo taxonómico), dado que, o grupo monofilético inclui o ancestral e todos os seus descendentes.
Quantas vezes surgiu a ‘moela’ ao longo da evolução?
Se os répteis e as aves fossem considerados dois grupos monofiléticos independentes, uma das estruturas do seu aparelho digestivo que permite a ingestão de pedras para realização de uma digestão mecânica dos alimentos – a moela – seria erradamente considerada como uma estrutura análoga que se teria desenvolvido de forma independente nos dois grupos. Seria uma estrutura com mais do que uma história evolutiva desenrolada de forma independente em diferentes grupos de organismos, como é o caso da história evolutiva de outras estruturas que surgiram entre os animais, como os olhos ou das asas. No entanto, isto não corresponde à realidade, já que, há fortes evidências de que esta estrutura surgiu em algum ponto do ramo filogenético que leva até aos crocodilos e às aves. Assim, a moela constitui uma ‘apomorfia’, ou seja, uma característica derivada do ancestral comum e compartilhada, neste caso, entre as aves e os crocodilos.
References:
- Brzozowski, J. A. (2014). É possível colocar espécies biológicas em cladogramas?. Acta Scientiae, 16(2).
- Kardong, Kenneth. (2006). Vertebrates – Comparative Anatomy, Function, Evolution. 4th Edition. McGraw-Hill.
- Pough, F. H., Janis, C. M., & Heiser, J. B. (2003). A vida dos vertebrados. S50 Paulo: Atheneu.