Esta revisão da literatura tem como objectivo mostrar a importância do Apoio Parental (AP) sobre os Hábitos de Estudo (HE) dos educandos e alunos. Iremos compreender algumas diferenças existentes entre os alunos e o ambiente familiar, que se relacionam com o Nível Sócio-Económico (NSE), com o sexo dos alunos e com as condicionantes físicas que estes têm disponíveis para realizar os seus Trabalhos Para Casa (TPC).
Palavras-chave: estudo; apoio; escola; professores; família; NSE
As estratégias de AP
Nas linhas abaixo, iremos conhecer algumas das teorias defendidas por vários autores no que concerne ao AP.
Duclos (2006) defende a importância de respeitar o ritmo de aprendizagem e as dificuldades do aluno e de ajudá-lo a descobrir um método de estudo que lhe permita organizar-se. Mais do que reter matéria, é importante ver os fracassos como oportunidades para superar os obstáculos escolares, o que irá estimular a percepção de que o sucesso é atingido pela persistência, motivação, esforço, autonomia (Duclos, 2006).
Santos (2000) diz que os pais devem promover espírito de curiosidade e capacidade de crítica, nos educandos, permitindo a evolução da sua autonomia e preparando-os para a cidadania, através, por exemplo, do hábito de ler.
Por vezes é preciso ajuda de um explicador ou de outros familiares para ultrapassar os obstáculos escolares, sendo da responsabilidade dos pais apurar a razão das dificuldades existentes e compreender que o sucesso deve ser fruto do esforço do aluno e que o insucesso é, normalmente, fruto do contrário (Zagury, 2002).
Segundo Santos (2000), por vezes, os alunos não gostam da matéria devido às dificuldades de interpretação e competências de leitura inadequadas, o que mais uma vez remete para a importância do hábito de ler, para adquirir conhecimentos e treinar a memória, colmatando estas falhas.
Para estimular o estudo, os pais devem supervisionar os Trabalhos para Casa (TPC), fazer comentários positivos, premiar os êxitos e incutir sentimentos de segurança, sem perder a noção dos obstáculos e admitindo o direito ao erro e ao insucesso, que muitas vezes é motivo de sofrimento por parte de alguns alunos (Boisvert, 2006).
Segundo Huggins-Cooper (2006), por vezes, as famílias encontram dificuldades em orientar os educandos, pela vida profissional de ambos os pais que, normalmente, não estão em casa quando os jovens chegam da escola e, quando chegam, vêm preocupados com coisas que os impedem de dar atenção aos filhos. No caso das famílias monoparentais a pressão é maior quando o progenitor que fica encarregue do aluno, passa a ter trabalho a dobrar, e se a família externa ao agregado não vive por perto, este problema ganha ainda maior dimensão (Huggins-Cooper, 2006).
No entanto, um estudo realizado por Rosário et al., (2005) com 3929 alunos mostra a importância de o aluno ter as suas próprias estratégias, proporcionando-lhe mais autonomia e melhores HE, principalmente no caso dos alunos cujo AP não abunda.
Formiga (2008) na sua investigação menciona ainda que a necessidade de criar bons HE deve partir essencialmente do próprio aluno, uma vez que, em muitos casos a família delega a orientação dos educandos para a escola, no que diz respeito aos estudos.
Segundo as pesquisas de Sousa (2006) o aluno deve seleccionar, organizar e criar os seus próprios meios de aprendizagem através da prática e do treino, o que lhes permite controlar a própria instrução e, mais uma vez, desenvolver a autonomia dependendo acima de tudo das estratégias de estudo adquiridas por si e da sua vontade de aprender sem se restringir apenas ao AP.
Dentro das mesmas linhas teóricas, outros estudos revelam ainda que o aluno deve saber auto avaliar-se e fazer as suas próprias escolhas, já que o seu desenvolvimento depende também da sua própria experiência que lhe permite ganhar autonomia e esta não se deve só ao AP (Castro, 2007).
A investigação revela ainda que os alunos com melhores HE têm também melhor desempenho, pois envolvem-se no seu trabalho e atingem melhores resultados (Castro, 2007).
Almeida et al. (2006) observaram, nos seus estudos, que a utilização de estratégias cognitivas favorece os HE pelo esforço e persistência, sendo os melhores alunos aqueles que têm mais facilidade em criar estratégias, pois têm maiores perspectivas de eficácia do que aqueles cujo estudo se limita a pressões externas como por exemplo, apenas para chegar à positiva.
Implicações do NSE
O NSE parece estar directamente relacionado com os HE dos alunos, uma vez que as famílias provenientes de baixo NSE, demonstram, habitualmente, menos à vontade e menos tempo para orientar os seus educandos do que as famílias de NSE médio e alto, que estão mais familiarizadas com o ambiente da escola, têm mais possibilidades financeiras e mais facilidade em colaborar com a escola na educação dos alunos (Davies et al., 1989).
Segundo Santos (2000) a educação permite o aumento da instrução e da qualidade de vida, contudo, apesar de todos terem acesso ao ensino obrigatório, persistem as diferenças de NSE, provocando a heterogeneidade de alunos, o que resulta num variado leque de nível sócio-cultural nas escolas.
É importante que os pais verifiquem os TPC apoiando e mostrando aos alunos que devem esforçar-se, assumir responsabilidades, orgulhar-se do seu esforço e perceber as vantagens da escola (Béliveau, 2006; Duclos, 2006).
De acordo com Zagury (2002) devem compreender que supervisionar o TPC não é fazê-lo pelo educando, mas sim orientá-lo tirando dúvidas quando é possível.
O TPC é uma forma de desenvolver a noção de responsabilidade nos alunos, a partir de um contrato entre aluno e professor, ao qual os pais devem dar importância e garantir o cumprimento da responsabilidade por parte do educando ajudando-o a evoluir autonomamente como estudante (Balancho, & Coelho, 1996; Duclos, 2006; Zagury, 2002).
No entanto, por vezes, devido ao NSE e ao nível sócio-cultural, os pais não compreendem as dificuldades sentidas pelos educandos na realização dos TPC confundindo-as com problemas psicológicos e/ou intelectuais (Santos, 2000).
Zagury (2002) refere que a escola, é um lugar em que todos têm direitos e deveres, deve ser promotora da igualdade, sendo importante que toda a comunidade escolar incluindo pais, professores e educadores incentivem os seus alunos a superar os seus próprios obstáculos, compreendendo o direito a falhar quando há esforço notório, e exigindo não mais do que o aluno pode dar nem menos do que ele mostra ser capaz.
O aluno deve aprender a usar as suas próprias estratégias e ser incentivado a participar das actividades da escola, desenvolvendo a sua autonomia e auto-confiança (Béliveau, 2006).
O ambiente de estudo
A investigação mostra que um ambiente de estudo adequado pressupõe um bom ambiente familiar, uma boa capacidade de tomar notas durante as aulas para ter a matéria organizada, a capacidade de concentração nas aulas e a adequada preparação para os testes, isto é, a atitude do aluno face ao estudo e o seu ambiente escolar (Nuthanap, 2007). O autor considera ainda que os HE são influenciados pela atitude, pelos traços de personalidade, pelos objectivos do aluno, pelo método de ensino docente e pela aquisição de material necessário para estudar (Nuthanap, 2007).
As condições físicas
O espaço físico nunca e neutro, isto é, reproduz frio, calor, luz, som, e outras sensações corporais, sendo sensorial e relacional (Barbosa, 2006). O local deve ser bem ventilado e mobilado, ter uma boa temperatura e luz que não incida directamente nos olhos do estudante. Caso ele não possa obter todas estas condições, deve, pelo menos, ter um local ventilado e aberto (Alves, & Leite, s.d.; Carita, Silva, Monteiro, & Diniz, 1997; Neves et al., 2009).
Segundo Carita et al. (1997) o local de estudo deve ser tranquilo, sem ruídos e sem muitas mudanças, permitindo que o aluno se concentre nas suas tarefas, para que possa estudar eficazmente.
Outros estudos revelam que uma das formas mais eficazes de assimilar os conteúdos mais importantes é estudar em locais diferentes no sentido de associar a matéria ao local de estudo para que se torne mais fácil a sua memorização (Carreteiro, 2011).
Segundo Béliveau (2006) e Silva et al (2000) cabe aos pais proporcionar um local adequado para estudar, que, habitualmente, é o quarto, por ser mais ergonómico, com um candeeiro de mesa colocado do lado esquerdo (caso seja dextro) para que o braço direito não faça sombra sobre o trabalho, e a mesa não deve ser mais alta do que a caixa toráxica nem se deve estudar perto de objectos passíveis de distrair.
De acordo com Rosário et al. (2005) os estudos indicam que o poder de se organizar e controlar factores externos, verificam-se mais frequentemente nos alunos menos dependentes de supervisão para realizar as suas tarefas escolares.
Apesar disso, precisamos d ter em conta que os alunos de NSE baixo nem sempre têm o local de estudo mais adequado devido às dificuldades financeiras, provocando o desnivelamento entre a cultura escolar e a familiar o que traz consequências negativas nos estudos destes alunos (Béliveau, 2006). Pelo contrário, no caso dos alunos de NSE médio/alto, por vezes são exigidas até notas elevadas para garantir o seu futuro profissional, o que provoca desigualdades entre os hábitos de estudo dos alunos (Béliveau, 2006).
Conclusão
Perante as linhas acima descritas podemos verificar a enorme importância que o AP assume no que concerne à escolaridade dos educandos, uma vez que se verifica que, quanto maior ele for, maior será a probabilidade de sucesso. Por outro lado, compreendemos que nem todas as famílias têm a mesma possibilidade de orientar os seus filhos, devido a várias condicionantes como o NSE, o emprego, a condição conjugal, etc. Verifica-se ainda que os alunos, para além de professores promotores de bons HE, devem, por si mesmos e com a ajuda dos pais, encontrar as melhores condições para realizar o seu estudo com vista ao sucesso escolar.
References:
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- Zagury, T. (2002). Escola sem conflito: parceria com os pais. Como acompanhar, escolher e avaliar a escola do seu filho. Como fazer do seu filho um bom estudante. (cap. 14, pp.233-236) Rio de Janeiro: Editora Record.