E Depois do Adeus

«E Depois do Adeus»: apresentação da canção interpretada por Paulo de Carvalho no Festival da Eurovisão de 1974. Hoje em dia o tema é recordado pelo seu papel na Revolução de Abril, como primeira senha radiofónica para os militares envolvidos nas operações.

Introdução

«E depois do adeus» é uma canção portuguesa com letra de José Niza e música de José Calvário, interpretada por Paulo de Carvalho no Grande Prémio TV da Canção (Festival da Canção RTP) de 1974, da qual saiu vencedora. Nessa qualidade, representou Portugal no Reino Unido, a 6 de Abril, no Festival Eurovisão da Canção, terminando em último lugar a par da Alemanha, da Suiça e da Noruega.

Foi, ainda, a primeira senha da Revolução de Abril de 1974, sendo particularmente recordada devido a este facto.

A canção

O tema foi composto pela dupla Niza e Calvário com a voz de Paulo de Carvalho em mente. Em entrevista à revista Blitz, o cantor afirmou que achou a canção muito bonita e, por essa razão, aceitou logo cantá-la.

Depois do 25 de Abril muitos tentaram interpretar «E depois do adeus” de uma forma política, como uma despedida ao fim do regime, mas não poderiam estar mais errados. A letra baseou-se numa selecção de pequenas frases das cartas que José Niza enviava à sua mulher quando se encontrava estacionado em Angola: “Quis saber quem sou”, “O que faço aqui”, “Quem me abandonou?”. É, na verdade, uma balada romântica típica dos anos 70, sobre um homem perdido depois do final de uma relação intensa.

Paulo de Carvalho sagrou-se vencedor do Festival RTP da Canção numa altura em que o festival era um acontecimento nacional e, depressa, a melodia ficou no ouvido dos portugueses. Em Brighton, no Festival da Eurovisão, não sofreu da mesma sorte, obtendo somente 3 pontos, quedando-se pelo último lugar da tabela. O Festival foi ganho por um grupo sueco relativamente desconhecido, os ABBA, que depois da vitória ascenderam rapidamente ao estrelato.

A primeira senha do 25 de Abril

Na noite de 24 de Abril, «E depois do adeus» foi emitida na antena dos Emissores Associados de Lisboa, às 22h55, como a primeira senha radiofónica para os militares envolvidos na revolução. Era uma canção popular, que passava frequentemente na rádio e, por isso, não levantava suspeitas. Deste modo, as operações militares arrancaram sem que o regime se apercebesse.

No entanto, em entrevista à revista Blitz, Paulo de Carvalho explicou que «E depois do adeus» quase não foi escolhida para este efeito: “sei hoje que houve uma reunião no Apolo 70 entre o Otelo, o Costa Martins, que foi Ministro do Trabalho no tempo de Vasco Gonçalves, e o [radialista] João Paulo Diniz [que à altura trabalhava nos Emissores Associados de Lisboa e no Rádio Clube Português]. A ideia do Otelo era que a primeira senha fosse o “Venham Mais Cinco”, do José Afonso, mas foi João Paulo Diniz que o convenceu de que essa canção, de um autor proibido pelo regime, poderia levantar suspeitas. E foi ele também que sugeriu o “E depois do Adeus”(…)”.

A segunda senha, «Grândola Vila Morena» foi emitida às 00h20, de acordo com a estratégia de Otelo Saraiva de Carvalho, na rádio Renascença. A emissão deste tema numa antena católica só poderia ter um significado: a revolução estava em marcha e iria até ao fim.

Áudio – E Depois do Adeus

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References:

Abreu, R.M. (2014). Duas canções, uma revolução: a história de “Grândola Vila Morena” e “E Depois do Adeus”. Em http://blitz.sapo.pt/principal/update/duas-cancoes-uma-revolucao-a-historia-de-grandola-vila-morena-e-e-depois-do-adeus=f91881

Freire, T. (2014). A canção do dia: Paulo de Carvalho – E Depois do Adeus. Em https://web.archive.org/web/20140603213133/http://altamont.pt/cancao-dia-paulo-de-carvalho-e-depois-adeus/

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