A pré-história da televisão não é tão recente como à primeira vista possa parecer. Na realidade, esta remonta aos tempos da grande revolução das imagens, mais concretamente à segunda metade do século passado, período em que começam por ser realizadas as primeiras fotografias, e em que foram inventadas as diversas técnicas que acabaram por dar origem ao cinema. É também nessa altura que três diferentes descobertas científicas vêm tornar possível esse então “mistério” da propagação das imagens elétricas à distância, mais concretamente a fotoeletricidade, isto é, a transformação da luz em energia elétrica, uma descoberta do telegrafista irlandês Christian May, em 1873, a decomposição da imagem em pontos claros e escuros e da sua recomposição, para a qual foi fundamental o contributo do alemão Paul Nipkow com o seu famoso disco perfurado em espiral (1884), que ao rodar realizava linha a linha a análise completa de uma imagem, e, por fim, as ondas hertzianas, cujo nome provém do seu inventor, Heinrich Hertz, que em 1887 produziu as primeiras ondas capazes de transmitir, sem fio, os sinais correspondentes a cada um dos pontos de uma dada imagem.
É com base nestas três inovações da ciência que um pouco mais tarde, em 1894, Marconi realizava os ensaios decisivos para as primeiras emissões hertzianas. O caminho estava assim aberto para que o nome do escocês John Baird ficasse para sempre ligado ao aparecimento da televisão, em 1925, com a primeira transmissão à distância de imagens em movimento com um sistema próprio. Não menos importante é o russo Zworykin que em 1923, nos Estados Unidos, desenvolve um dispositivo de TV inteiramente eletrónico, aperfeiçoando progressivamente o tubo catódico e o iconoscópio por forma a obter, em 1936, uma definição de imagem de 450 linhas.
Os passos decisivos que fosse possível dar início às emissões televisivas experimentais, não regulares, foram dados logo após a I Guerra Mundial, sendo os seus principais autores as grandes companhias norte-americanas Bell Telephone e RCA, e, em Inglaterra, John Baird. Este último, criou em 1926 o televisor, um aparelho que funcionava com um sistema de 30 linhas e a 12,5 imagens por segundo, o qual foi evoluído progressivamente, para responder às normas exigidas pela BBC, chegando a alcançar as 240 linhas, corria o ano de 1936. Contudo, este sistema foi rapidamente ultrapassado, mais concretamente pelo da EMI, cujo sistema seria o selecionado pela BBC ao inaugurar as suas emissões regulares para o grande público, em Alexander Palace, a 2 de Novembro de 1936.
No entanto, as primeiras emissões de programas a surgir com regularidade, horário pré-estabelecido e anúncio na imprensa, tiveram origem na Alemanha. De facto, as primeiras emissões televisivas regulares destinadas ao público tiveram origem precisamente a 23 de Março de 1935, em Berlim, mas talvez por o equipamento utilizado (então com 180 linhas, a 25 imagens por segundo) ter sido destruído por um incêndio ainda no decorrer desse mesmo ano, e de, portanto, terem sido interrompidas as transmissões, estas emissões são muitas vezes descuradas, atribuindo-se comummente à Inglaterra o título de primeiro país a iniciar emissões televisivas regulares. Apesar deste percalço, a Alemanha retoma as emissões televisivas em 1936, com a cobertura dos Jogos Olímpicos de Berlim, transmitidos em direto para as várias cidades alemãs e atingindo uma audiência de cerca de 150 mil pessoas.
A inauguração de serviços regulares de televisão prosseguiu então, em Inglaterra, a 2 de Novembro de 1936, em França, em Maio do ano seguinte, na União Soviética nos primeiros meses de 1938, e nos Estados Unidos da América em Abril de 1939.
Além do impacto a nível social, também a surgiram grandes alterações a nível económico, surgindo uma forte indústria de produção de uma vasta gama de aparelhos televisivos.
O dia 1 de Setembro de 1939 vem no entanto trazer um novo marco para a história da televisão; a emissão em Inglaterra recebe durante a manhã uma ordem de suspensão imediata, cancelando-se assim o programa do rato Mickey, em exibição naquele momento. Progressivamente os ecrãs dos principais países europeus foram-se todos apagando, e assim ficaram por um período de sete anos, devido à II Guerra Mundial. Os alemães foram os únicos a não interromper as emissões, servindo-se da televisão para a sua estratégia propagandística, e só após a destruição pelos Aliados do emissor de Witzleben, em finais de 1943, é que as emissões foram finalmente interrompidas. Nos Estados Unidos o desenvolvimento da televisão só se recente após o ataque japonês a Pearl Harbour, em Dezembro de 1941, o que motiva a entrada dos americanos na Guerra e consequentemente a mobilização de todos os seus recursos económicos e da sua capacidade tecnológica.
Se antes da guerra a programação era já, de algum modo, diversificada, com emissões variadas, canções, rábulas teatrais, desenhos animados, atualidades, reportagens do exterior, entre outros, atingindo as 24 horas semanais em Londres, as 15 horas em Paris, 35 horas na Alemanha, não era portanto difícil de prever que após a II Guerra Mundial, embora partindo do zero, a televisão rapidamente retomaria a dinâmica abandonada sete anos atrás.
O dia 1 de Setembro de 1947 marcou precisamente o reinício das emissões de Alexander Palace, em Londres, sete anos exatos após e interrupção. E é o mesmo rato Mickey que tinha abandonado o ecrã sem aviso que reentra agora para acabar a história que havia deixado a meio. Avanços tecnológicos importantes foram então registados, nomeadamente a adoção do VHF e do UHF, com a multiplicação dos canais disponíveis, a definição de imagem e os standards de televisão, com os Estados Unidos a normalizarem as emissões nas 525 linhas e a Europa, de uma forma geral, nas 625 linhas.
Os Estados Unidos, através da Federal Communications Commission (FCC), órgão regulador da radiodifusão, reenquadram a televisão em normas legais perfeitamente claras logo no período pós-guerra. A partir sensivelmente de 1948 inicia-se a grade difusão a nível popular da TV, e em Janeiro de 1950 existem já 97 estações de televisão em 36 cidades. É ainda nos Estados Unidos que se registam avanços notáveis: a cor surge em 1953, quando o número de estações se aproxima das 200, sendo já nesta altura o número de televisores possuídos pelos americanos superior a 15 milhões. Em 1955 a quase totalidade do território estava coberta. Em 1956 aparecem as cassetes de vídeo.
É ainda nos Estados Unidos que mais rapidamente cresce o mercado publicitário de televisão (de 9,8 milhões de dólares em 1948 para 1,5 biliões em 1960), não podendo exceder, nos anos 50, 20% do tempo do horário nobre; e é lá também, em sistema concorrencial, que desde cedo as sondagens e os índices de audiência decidem quais os programas a emitir. Os programas preferidos pelos americanos são já nessa altura os concursos, as séries, os programas de variedades, as telenovelas, não esquecendo a informação, as campanhas eleitorais e o desporto – o direto, sobretudo.
Na Europa este processo evolutivo decorreu de forma mais lenta e gradual. Em Inglaterra, em 1954, quando, finalmente, após uma autêntica guerra entre trabalhistas e conservadores, é autorizada a segunda rede, comercial, financiada exclusivamente pela publicidade. Se a BBC, na sua proverbial independência, geria uma programação extremamente sóbria, da informação aos dramáticos baseados em grandes obras da literatura europeia, passando pelo desporto e as grandes reportagens reais, com as famosas coroações de George VI ou, mais tarde, da Rainha Elizabeth, a Independent Television Authority (ITA) adotou, pelo contrário, a fórmula popular da televisão americana: jogos, concursos, variedades para o grande público, séries populares e uma informação muito viva e com uma forte componente regional. Assim nascia a primeira televisão privada europeia, com a concessão a 14 sociedades regionais privadas da produção de programas. Quatro meses após o seu lançamento, em Fevereiro de 1956, quatro telespectadores londrinos em cada cinco preferia as redes comerciais. O contra-ataque da BBC chamar-se-ia BBC 2 e seria lançado apenas em 1962. Mesmo assim as preferências do público continuariam repartidas entre a televisão pública e a privada.
Os anos 50 são também a década em que por toda a Europa, quer no Ocidente quer no Leste, surgiram os canais nacionais de televisão (na URSS ainda antes, em 1948, na região de Moscovo), em 1951 na Holanda, em 1952 na República Democrática Alemã, em 1953 na Bélgica, Dinamarca, Polónia e Checoslováquia, em 1954 na Itália, em 1955 na Áustria, Luxemburgo e Mónaco, em 1956, na Suécia e em Espanha. Portugal foi um dos últimos países da Europa Ocidental onde a televisão chegou, tendo a História da televisão portuguesa apenas início em 1955.
Países como o Japão, o Brasil e o Canadá têm os seus canais logo no início da década enquanto a China e a Índia só o conseguem já nos finais dos anos 50. Facto também de grande relevância é a criação em 1954 da Eurovisão, instância criada entre organismos de televisão membros da União Europeia de Radiodifusão, e que tinha por objetivo centralizar a troca de programas de televisão entre os seus membros.
Os anos 60 são, por assim dizer, o período em que se constitui pela primeira vez, com alguma evidência, uma ideia de comunidade planetária, presente em simultâneo perante um e um só acontecimento. Esse primeiro acontecimento teve obviamente um nome, um local, e uma razão: tratou-se da concretização da chamada “mundovisão”, uma ligação em direto entre os Estados Unidos e a Europa, no dia 10 de Julho de 1962, através do satélite Telstar, o primeiro satélite de distribuição ponto a ponto a ser colocado em órbita. Em 1965, novo e importante passo era dado nesta matéria com o lançamento do primeiro satélite de telecomunicações geostacionário, o Early Bird. Finalmente, a 21 de Julho de 1969, realiza-se em direto uma das mais importantes emissões televisivas de sempre: os primeiros passos do homem na Lua. Por essa altura já três satélites geostacionários faziam a cobertura da totalidade do planeta, o que facilitou também a retransmissão deste momento para 43 países.
Os anos 60 não foram contudo apenas o início da “era dos satélites”; foi neste período que se foi tomando consciência das potencialidades económicas, mas também culturais, sociais e políticas, de um meio agora transformado num fenómeno verdadeiramente universal. Enquanto fator económico, a televisão começa por ser, nos EUA, objeto de consideráveis investimentos, e por isso mesmo foi a partir dessa altura que, nomeadamente no mercado americano, o número de canais começou a aumentar progressivamente, sobretudo no domínio da televisão por cabo. Embora remontem ainda aos anos 40 as primeiras experiências de TV por cabo, sobretudo com o objetivo de chegar a zonas de difícil penetração das ondas hertzianas, é nos anos 60 que esse mercado cresce, mas agora deixando as zonas de absoluta interioridade para partir à conquista das grandes cidades. O parque de televisores cresce também de uma forma absolutamente incrível: cerca de 1000% ao longo da década de 60 nos países mais desenvolvidos, designadamente nos EUA, no Japão e nos principais países europeus.
Mas se os EUA, a Inglaterra e o Japão conheciam já canais alternativos, entre públicos e privados, desde os anos 50, tendo portanto os telespetadores a possibilidade de optar pelo canal da sua preferência, todos os outros países, nomeadamente na Europa, e também no resto do mundo, com algumas exceções, estavam submetidos a uma ou duas estações dirigidas pelo próprio Estado. A década de 70 é assim uma época de reenquadramento dos diferentes sistemas audiovisuais, com vista à sua adequação aos avanços tecnológicos.
Com efeito, se ainda nos anos 60 havia um pouco a ideia de que o fenómeno televisivo era, por assim dizer, um “milagre”, rapidamente esse mistério se perde: os anos 70 transformaram em definitivo a televisão em eletrodoméstico, em objeto de grande consumo.
É neste período que se confirma a superioridade norte-americana no mercado mundial de programas. São de facto as grandes produtoras americanas, bem como as grandes redes nacionais ABC, CBS e NBC, que abastecem os canais de televisão de todo o mundo com vendas que ultrapassam, na maior parte dos casos, 50% da programação de cada um desses canais, chagando a médias superiores a 80% nalguns países europeus, em plenos anos 90. Séries como “Bonanza”, “Casei com uma Feiticeira” ou “Os Anjos de Charlie” fazem parte da cultura não só americana mas também europeia, reforçando-se assim o impacto cultural a nível mundial dos EUA.
Foi ainda na década de 80 que o poder não só económico mas político e social da televisão se tornou mais evidente, com a transmissão de debates políticos e de programas que abordavam tópicos muito debatidos, como a SIDA ou as preocupações ambientais.
No que se refere à gestão dos sistemas audiovisuais, o fenómeno que então se verifica é o do progressivo abandono de uma situação de canal único, o que muito de deveu à proliferação das novas tecnologias – e aqui, mais uma vez, é necessário realçar a importância dos satélites e da televisão por cabo, que em conjunto tornam difícil vislumbrar limites técnicos ao desenvolvimento de futuros canais da televisão. É assim que ao longo da década diversos são os países europeus que modificam a sua legislação tendo em vista, designadamente, o alargamento legal do seu espectro hertziano a novos canais nacionais e locais de televisão. É, por assim dizer, um fenómeno que rapidamente alastra a toda a Europa: a Itália começa por dar o exemplo, ainda à revelia de um enquadramento legal. Seguem-se-lhe a França, a Espanha, a Grécia, a Holanda, e, finalmente, chega a liberalização da lei portuguesa da televisão, no início dos anos A primeira metade da década de 80 testemunhou ainda um novo fenómeno na história da televisão, nomeadamente a proliferação de sistemas de antenas parabólicas, que permitiam o acesso a canais estrangeiros.
Os anos 80 ficam ainda marcados pela procura de um consenso europeu em torno da necessidade de, nomeadamente, desenvolver a indústria europeia de programas de televisão face à elevada penetração dos programas americanos. A criação de uma norma comunitária de televisão de alta definição com vista à aprovação de uma norma standard a nível mundial surge em paralelo com o apoio ao audiovisual europeu, designadamente através do programa Media.
Deste modo os anos 90 caracterizam-se sobretudo pelo contínuo surgimento de novos canais e, principalmente, pelo aumento exponencial de produção própria nas redes televisivas europeias.
Com o início do século XXI e avanços tecnológicos que se seguiram, a televisão enfrentou um período conturbado, tendo o computador, e consequentemente a Internet, surgido como grandes rivais do até então líder de entretenimento popular; assim, a televisão reinventou-se, não só a nível de programas emitidos como a nível tecnológico. A introdução de sistemas como a fibra ótica, e a possibilidade de gravação automática ou a interatividade de muitas emissões, que permitem, por exemplo, escolher a câmara a emitir durante um direto, são apenas alguns exemplos de formas de adaptação da televisão ao telespetador e ritmo de vida atuais.
Contudo, e apesar das diversas alterações e obstáculos que enfrenta, a televisão continua a ser um dos principais veículos de informação a nível mundial, mantendo vivo o seu impacto, cultural, social, económico e político.