Biracialismo

Conceito de Biracialismo: Utiliza-se o conceito de biracialismo em exemplos genealógicos que indicam claramente a ancestralidade racial de um indivíduo como…

Conceito de Biracialismo

Utiliza-se o conceito de biracialismo em exemplos genealógicos que indicam claramente a ancestralidade racial de um indivíduo como compreendendo duas ou mais “raças”. Num panorama muito geral, o termo refere-se à primeira geração de indivíduos que detém uma herança racial mista, quer dizer, indivíduos que têm pais de grupos raciais socialmente distintos. Por vezes, a noção de biracialismo acaba por ser permutada com o conceito de “multirracialidade” ou “raça mista”, o que se tem revelado uma preocupação na pesquisa sociológica, dado que a miríade de significados confluentes nesta permutação varia de acordo com a esfera privada ou pública. Há que reiterar também, que relativamente ao legado colonial inculcado no conceito de “raça mista”, o termo biracialismo acaba por ser um conceito relativamente recente no quadro das ciências sociais.

Quanto à investigação em torno deste tópico, num microplano as análises efetuadas têm examinado o processo de desenvolvimento da identidade racial, e o modo (o mesmo é dizer modos) como os indivíduos biraciais constroem a identidade racial no contexto das interações sociais. Já as análises que decorrem num plano dito macro, concernem ao papel que desempenha o termo “raça” nas estatísticas demográficas, políticas governamentais ou políticas estatais.

A investigação de Ifekwunigwe (2004) em torno da história da noção de “raça mista” sugere três etapas conceptuais para a compreensão do biracialismo: em primeiro lugar, a “patologia”; em segundo lugar, a “celebração”; por último, a “crítica”.

A pseudociência foi a influência reinante na “era da patologia”, resultando na estratificação de categorias raciais socialmente definidas. Nesta hierarquia racial, a raça branca situava-se no topo, e imperava o mito da pureza da raça branca, pelo que se definia a miscigenação como a conspurcação da superioridade rácica da população branca, e os rebentos de tais relações como geneticamente inferiores. A “era da celebração” surge das memórias pessoais da exploração da identidade denominada como “raça mista” ou biracial, sendo que os estudos em torno desta temática permaneceram tímidos no seu escopo. No entanto, com esta primeira pedra de toque, os estudos em torno do biracialismo floresceram na década de 90, tornando-se interdisciplinares e convidando abordagens mais críticas. A corrente “era da crítica” é marcada por temáticas irresolutas, como o desenvolvimento de um modelo compreensivo para o entendimento da identidade biracial em todas as suas manifestações; a reconciliação da identidade pessoal com a categorização racial; as limitações do “movimento multirracional” no contexto da ampla batalha pela justiça racial.

Como conceito emergente, o uso de biracialismo reflete uma crescente aceitação – no mínimo o reconhecimento -, de populações de “raça mista”, ilustrando a profícua influência de indivíduos que se inserem nesta categoria por recusarem um esquema de classificação rácico baseado num critério único. Por outro lado, a manifesta sociedade global é caracterizada pelo aumento das taxas de imigração e uniões inter-raciais, ao que se acresce o novo espaço cultural aberto aos indivíduos biraciais, onde estes se definem e clamam por identidades raciais previamente indisponíveis. Sabe-se que o significado de “raça” é fluído, e que as designações raciais estão inevitavelmente associadas com as lutas económicas, políticas e sociais: assim, a identidade racial é uma construção paradigmática, intimamente ligada às políticas e programas governamentais. Mas estas políticas acabam por ser um fragmento de um discurso mais vasto sobre a justiça racial.

Consoante as pesquisas avançam e se tornam cada vez mais críticas na abordagem empregue, as direções futuras deverão incorporar a problematização das diásporas, uma vez que assim como os estados e as nações apresentam estruturas raciais diferentes, o mesmo acontece no contexto das diásporas. Adicionalmente, não deve ser concedida a primazia à polarização branco/negro que dominou muita literatura sociológica ocidental, para que se apreendam com maior rigor, as formas contemporâneas do preconceito e injustiça.

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References:

Ifekwunigwe, J. O. (Ed.) (2004) “Mixed Race” Studies: A Reader. Routledge, London.

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