Transtorno Afetivo Bipolar

O Transtorno Afetivo Bipolar: breve histórico, descrição, etiologia, diagnóstico e tratamento.

Breve histórico

Em meados de 1896 no Brasil, a Psicose Maníaco-Depressiva, atual Transtorno Afetivo Bipolar (classificado como um transtorno do humor), foi reconhecida e descrita a partir das obras de Emil Kraepelin, um médico psiquiatra alemão que se dedicou aos estudos dos quadros clínicos deste transtorno e da Demência Precoce, que hoje conhecemos como Esquizofrenia.  Um estudioso que se tornou referência mais tarde para uma variedade de outros profissionais e cientistas da área, trazendo influências acerca do entendimento das doenças psiquiátricas como uma alteração orgânica do cérebro que continha uma história natural e assim, cada um dos outros diagnósticos psiquiátricos, sucessivamente.

Apenas em 1993 que a psicose maníaco-depressiva tem sua nomenclatura alterada para Transtorno Afetivo Bipolar pela CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), a qual publica em específico uma parte intitulada como Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamentos da CID-10, correspondendo ao “capítulo V” desta obra. Esta passa por traduções idiomáticas, reedições e revisões de conteúdos e conceitos, em uma determinada periodicidade e conforme atualizações necessárias realizadas pela World Health Organization e seus colaboradores.

Para traçarmos um norte na descrição do Transtorno Afetivo Bipolar, conhecido na prática clínica dos profissionais atuantes na área da saúde mental e pelos sujeitos acometidos por tal sofrimento psíquico como “TAB”; tomaremos como referência a classificação citada, a CID-10; bem como as experiências e conhecimentos obtidos e compartilhados no campo da saúde mental.

Descrição

Como citamos anteriormente, o transtorno afetivo bipolar é classificado como um transtorno do humor. Trata-se de uma perturbação mental em que ocorrem alterações das funções psíquicas e psicopatológicas que oscilam o afeto, ou seja, sinais e sintomas afetivos que fogem do controle (Oliveira, 2017). Cabe ressaltar aqui, que não há funções psíquicas que não estejam interligadas, nem alterações psicopatológicas que operam de maneiras fragmentadas. O indivíduo que adoece, é acometido integralmente pelo seu adoecimento (Dalgalarrondo, 2008). A alteração do humor apresenta-se, de base, por uma alteração no nível global de atividade, sendo que os outros sintomas são secundários, mas nos permitem uma melhor compreensão quando consideramos e conhecemos o contexto nos quais tais alterações surgem desde o primeiro episódio da doença. A tendência é deste transtorno ser recorrente e está diretamente ligado a eventos ou situações estressantes vivenciadas no decorrer da vida do sujeito acometido.

O TAB foi classificado em vários episódios e cada um deles com suas características e critérios específicos, dos ainda encontramos outras subclassificações. No entanto, enfocaremos nos termos “mania” e “depressão grave”, dos quais faremos uso para explicar as condições de extremos opostos do espectro afetivo. Nos deparamos ainda com o termo “hipomania” que faz referência a quadros intermediários, os quais são caracterizados por não serem encontrados sintomas de alterações da sensopercepção (como por exemplo, as alucinações e os delírios) ou da completa perturbação das atividades comuns. Geralmente, estão presentes em pacientes que desenvolverão em breve ou se recuperaram de um estado de “mania”.

As síndromes maníacas são constituídas por períodos de euforia e de elação. Nelas, as funções psíquicas permanecem aceleradas, o que denominamos por taquipsiquismo. Dos sintomas mais comuns e perceptíveis estão a agitação psicomotora; o pensamento acelerado (em geral, superficial e impreciso); a logorreia e a exaltação. Outros sinais e sintomas apresentados pelos pacientes que sugerem um quadro clínico clássico de mania são: aumento da autoestima, elação (sentimento de expansão do Eu, arrogância), loquacidade (fala rápida, fluente e persistente), dificuldade em manter-se atento, insônia, irritabilidade, heteroagressividade, hostilidade verbal, desinibição social e sexual, tendência exagerada às compras e doações de objetos e ideias de grandeza que configuram delírios (de poder ou de grandeza) e alucinações (são comuns as auditivas de conteúdos grandiosos).

Já os episódios depressivos, encontrados no transtorno afetivo bipolar, são caracterizados por sinais e sintomas destacados por significativo desânimo e humor triste que vêm acompanhados por uma variedade de sintomas afetivos (apatia, irritabilidade, tédio, entre outros); anedonia; cansaço; diminuição da libido; hipersomnia ou insônia; alterações do apetite; negativismo atingindo a  ideação, planos e atos suicidas; sentimento de menos valia; prejuízo das funções cognitivas; alterações na volição e sintomas psicóticos que se caracterizam por ideias delirantes de cunho negativo, alucinações auditivas com conteúdos depressivos e ideações paranoides.

Etiologia

No transtorno afetivo bipolar, como na maioria dos outros transtornos psiquiátricos, a etiologia está diretamente relacionada a um conjunto de fatores, presentes tanto na mania como na depressão. Tais fatores são biológicos (genéticos, alterações de neurotransmissores e alterações neuroanatômicas), bem como psicossociais (por exemplo, privação e abuso na infância, eventos estressantes durante a vida, personalidade, etc.).

Esses aspectos são determinantes em uma anamnese psiquiátrica a ser realizada pelo profissional especialista e assim, para a determinação do diagnóstico; o qual possibilitará a elaboração de um tratamento clínico e terapêutico mais indicado e direcionado a cada paciente, considerando sempre a singularidade do caso.

Diagnóstico

A conclusão de um diagnóstico é realizada com base em análises clínicas e observacionais, de coletas de informações sobre o histórico da doença mental e de qualquer outro fator, como os relacionados acima, que podemos considerar como o possível evento desencadeante do transtorno em questão.

Cada diagnóstico é construído a partir de critérios específicos e de um determinado curso clínico, os quais nortearão uma evolução “boa” ou “ruim” de uma patologia (Dalgalarrondo, 2008). No caso do transtorno afetivo bipolar, para exemplificarmos com mais clareza, os fatores que contribuem para uma “boa” evolução da doença são: rede social eficaz, boa adesão ao cuidado proposto, início precoce do tratamento e apoio familiar. Já para uma “má” evolução da patologia, há fatores que contribuem para tal condição, como: redes social e familiar precárias, início precoce da doença, uso de substâncias psicoativas, comorbidade com transtorno de personalidade, má adesão ao tratamento com reincidência de episódios maníacos, entre outros (Oliveira, 2017).

Tratamento

Atualmente, no âmbito da saúde mental e dos tratamentos disponíveis, encontramos estudos científicos variados que nos auxiliam na expansão dos nossos saberes, que contribuem no surgimento de novas tecnologias e recursos e que nos induzem a buscar pela expansão dos nossos conhecimentos; devemos considerar, anterior a qualquer ação ou intervenção, seja qual for o cenário apresentado, o fato de que estamos cuidando de pessoas, de vidas e de individualidades heterogêneas e um tanto diversificadas. Portanto, para cada sujeito será ofertado um plano de tratamento individual e que a escolha por realizar tal tratamento ou não, não será permeada apenas pelo nosso desejo e sim, impreterivelmente, deverá ser despertada pelo próprio indivíduo que o necessita e o aceita recebê-lo.

Para o tratamento do transtorno em questão, encontramos os cuidados ofertados por equipes multi ou interdisciplinares. Cada profissional contribuirá, na ótica do seu núcleo profissional, com a elaboração do projeto terapêutico singular daquele determinado paciente. São ofertados recursos como: medicamentos (antipsicóticos, estabilizadores do humor, antidepressivos, etc.); atendimentos individuais e em grupos; intervenções que incluam sua reinserção social após o evento do adoecimento; suporte familiar e intervenções que se fizerem necessárias para que, cada momento pelo qual o sujeito esteja vivenciando, ele possa ser visto de forma integralizada e corresponsável pelo seu tratamento.

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References:

  • Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. da Saúde; trad. Dorgival Caetano. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
  • DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais / Paulo Dalgalarrondo. – 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008.
  • OLIVEIRA, Karina Diniz. Medicina da Família – transtornos da afetividade. Campinas: UNICAMP, 2017. 50 slides, color. Acompanha texto.
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