Armadilha de liquidez

Apresentação do conceito / significado de armadilha de liquidez; principais explicações para o fenómeno da armadilha de liquidez; principais consequências…

Conceito de armadilha de liquidez

Armadilha de liquidez (do inglês liquidity trap) é a designação dada a um fenómeno monetário que ocorre quando a taxa de juros nominal está muito baixa levando a que a política monetária deixe de ter efeito, tornando ineficazes os métodos tradicionais de política monetária para influenciar a economia. O fenómeno foi explicado por por John M. Keynes, que estimou que esse fenómeno ocorreria quando a taxa de juro fosse igual ou menor que 2% ao ano.

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Descrição do fenómeno

O fenómeno da armadilha de liquidez é explicado pelo facto de que numa situação de baixas taxas de juros, os agentes económicos não esperarem grandes retornos dos valores dos investimentos físicos ou financeiros, pelo que guardam os seus activos em depósitos de curto prazo, em lugar de fazer investimentos de longo prazo. Este comportamento dos agentes económicos leva a que, mesmo que as autoridades monetárias aumentem a oferta de moeda para estimular a economia, tal não origina mais investimento, induzindo apenas ao entesouramento de moeda.

Assim, quando uma economia é ‘capturada’ na armadilha da liquidez, a política monetária perde a sua eficácia, porque os investidores preferem manter liquidez, seja porque esperam deflação ou inflação muito baixa, seja por considerarem que a procura agregada é insuficiente. Ou seja, os agentes económicos preferem guardar o seu dinheiro a emprestá-lo ou investi-lo por considerarem a conjuntura desfavorável. Em resultado disso, assistimos a baixos níveis de crédito às empresas e às famílias, apesar da existência de uma política monetária expansionista. Os bancos financiam-se mais barato mas exigem margens restritivas no crédito. Este processo agrava a situação económica recessiva e torna-se, por isso, num círculo vicioso, daí que se chame uma ‘armadilha’. Neste contexto, a política monetária perde eficácia porque a liquidez disponibilizada pelos Bancos Centrais será simplesmente armazenada pelos bancos. Assim sendo, a única solução está em ativar a política orçamental, colocando o Estado a funcionar como motor de arranque para a economia.

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Consequências deste fenómeno

A principal e mais grave consequência da armadilha de liquidez traduz-se na possibilidade de a economia poder entrar numa espiral deflacionista (ver deflação). De facto, no caso de um choque desfavorável sobre a economia provocar recessão e deflação, a rigidez à baixa da taxa de juro nominal implicará uma subida da taxa de juro real, com efeitos recessivos e deflacionistas adicionais na economia. Estes efeitos serão agravados se existir também rigidez à baixa dos salários nominais, caso em que a deflação provocará igualmente a subida dos salários reais, contribuindo adicionalmente para agravar a recessão.

Um exemplo deste fenómeno aconteceu na Zona Euro nos anos que se seguiram à grave crise económica e financeira despoletada nos Estados Unidos em 2008. Nesse período, as sucessivas reduções das taxas de juro de referência, bem como as medidas não-convencionais de liquidez, não se refletiram com eficácia no desejado aumento dos níveis de crédito à economia real.

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Avanços no estudo da armadilha de liquidez

A teoria tradicional da armadilha de liquidez foi desenvolvida pelos economistas neoclássicos, da qual Keynes é um dos principais representantes. A necessidade de construção de um modelo que permitisse analisar a ‘Década Perdida do Japão’ (designação dada à estagnação económica vivida pelo Japão desde 1990) fez com que o estudo sobre o conceito de armadilha de liquidez readquirisse importância e culminasse na sua remodelação.

Enquanto que na versão tradicional esse fenómeno emergia de um contexto de incerteza, na versão moderna resulta de um choque negativo sobre um sistema de equações em equilíbrio. Regra geral este choque ocorre sobre a equação da procura agregada dinâmica (ver modelo IS-LM) derivada do comportamento otimizador do agente económico.

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References:

  • Brunner, Karl e Meltzer, Allan (1968). Liquidity Traps for Money, Bank Credit, and Interest Rates, Journal of Political Economy.
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